Projeto ajuda a reaproveitar água em pequenas propriedades do RN


A quantidade de água doce à disposição da população está diminuindo. Por isso, a importância de projetos de reuso de água é cada vez maior, principalmente em regiões como o semiárido brasileiro. No Rio Grande do Norte, uma experiência de sucesso, batizada de Bioágua, aproveita a água usada em casa para a irrigação de hortas.

No município de Olho D'água do Borges, perto da divisa com a Paraíba, a chuva é pouca e mal distribuída. No semiárido, a média de chuva é de 600 mm por ano, cerca de um terço do que chove em Natal, capital do Rio Grande do Norte, por exemplo.

Nos meses de inverno, quando os moradores esperam pela água, eles ainda podem ser surpreendidos pela estiagem. Foi exatamente isso que aconteceu este ano.

O agricultor Sebastião de Brito tem 60 cabeças de gado. Sem pasto nativo suficiente, ele tira do bolso para comprar ração e dar aos animais no cocho. Mesmo assim, não conseguiu manter a produção de leite. "Estou tirando 30 litros de leite, mas deveria estar tirando 50, 60 litros", afirma.

Outra renda do agricultor vem dos animais vendidos para abate, mas com o gado magro, a venda fica mais difícil. "O animal é vendido por R$ 100, o quilo. Estando magro não tem quem queira. Tem que investir mais e isso diminui a renda", explica Sebastião.

A casa de Sebastião vai receber o Bioágua, um sistema que aproveita a chamada água cinza - toda a água usada na casa, menos a do vaso sanitário - para irrigar hortaliças. A iniciativa é do Projeto Dom Helder Camara e está mudando a situação do semiárido.

Por enquanto, foram instalados apenas três Bioáguas. "Este projeto é uma ação do Ministério do Desenvolvimento Agrário, com colaboração do Fundo Internacional de Desenvolvimento da Agricultura, que tem como finalidade o combate à pobreza e o desenvolvimento rural. A instalação do projeto custa em torno de R$ 3 mil. A nossa proposta é procurar órgãos patrocinadores", explica o agrônomo Fábio Santiago, coordenador técnico do projeto Dom Helder Câmara.

O sistema do Bioágua
O sistema funciona da seguinte forma: a água sai da casa por um único cano e segue por gravidade até o filtro, construído ao lado, em um terreno mais baixo. Depois de passar pelo filtro, ela vai até um reservatório e, de lá, a água é bombeada para canteiros de hortaliças.

De acordo com a quantidade de água usada na casa, se define o número de filtros necessários. Feitos os buracos, são erguidas as paredes de cimento com a ajuda de formas de metal.

Cada filtro tem um metro e meio de diâmetro e um metro de profundidade. Para garantir uma boa filtragem, a estrutura é preenchida com várias camadas de diferentes materiais: 20 centímetros de seixos, dez de brita, dez de areia lavada, cinquenta de serragem, e dez de húmus, contendo um quilo de minhocas. Depois que estiver funcionando, o filtro precisa passar por manutenção a cada seis meses.

Abrir a cabeça dos moradores às novidades é a tarefa de Luiz Monteiro Neto, técnico agrícola da ONG Athos, encarregada de implantar o projeto na região. Luiz é também pastor da igreja evangélica, um líder muito ouvido na região. Mesmo assim, o povo quis ver para crer. "O convencimento veio com os resultados que foram surgindo", conta.

Ao lado do Bioágua ficam os canteiros para as hortaliças. A água filtrada na casa de Sebastião vai ser suficiente para irrigar dois canteiros com 13 metros de comprimento por um metro de largura e manter cerca de seis árvores frutíferas.

Resultados de sucesso
Na primeira casa a receber o Bioágua, em 2009, moram sete pessoas e o consumo de água é muito grande. O agricultor Ulisses dos Santos, um dos moradores, sabe tudo sobre o projeto. "A gente achava que a água depois de usada, na teoria, não servia para mais nada. Então, ela era desperdiçada, jogada a céu aberto. Essa tecnologia que o projeto trouxe, mudou totalmente nosso pensamento. A gente aproveita de 800 a mil litros de água, que estavam sendo desperdiçados por dia", relata.

Para garantir a eficiência do sistema, a Universidade Federal Rural do Semi-Árido fez vários testes durante estes três anos. "Os riscos na reutilização envolvem uma possível contaminação dos trabalhadores, que manuseiam a horta, e dos consumidores. Pode ocorrer também a salinização, que deixa o solo menos produtivo. Após vários ajustes do sistema, a gente chegou a uma condição de produzir culturas que atendem os padrões de qualidade da Anvisa. Na condição atual, as verduras dessas hortas são seguras para o consumo", garante a engenheira sanitarista Solange Dombroski.

Entre as adaptações a que a engenheira se refere estão o aumento no número de filtros, já que a grande quantidade de água em um único filtro matava as minhocas, e a mudança do sistema de irrigação de aspersão para o gotejamento, mais econômico e que também diminui o contato da água de reuso com as hortaliças e com os agricultores.

Garantir um pequeno oásis para os moradores do semi-árido é um projeto ambicioso. Ainda mais quando se espera atingir um milhão de famílias. Este é o objetivo do Projeto Dom Helder Camara. Depois de provar sua eficiência, resta agora, conseguir verba para realizar este sonho.

Se você se interessou pelo projeto Dom Hélder Câmara, clique aqui e veja a explicação técnica para a construção do BioÁgua.
Fonte: JMA

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