A poluição da nuvem digital - O armazenamento virtual de dados consome mais energia que o Brasil todo. E a maior parte vem da queima de carvão

"Salve o meio ambiente, não imprima sem necessidade". Quem nunca viu uma assinatura de e-mail desse tipo? Desde que virou um dos mantras sustentáveis mais comuns do mundo, empresas e pessoas passaram a migrar arquivos de papel, fotos e tantos outros registros para CDs, DVDs, HDs etc. Parte do problema estaria resolvida, que beleza - mesmo que essas mídias, é claro, também ocupassem cada vez mais espaço em armários, gavetas e prateleiras.


E aí, então, ela veio. Leve, fácil, prática. Para que gravar seus arquivos em um DVD facilmente riscável cuja vida útil é de alguns anos? É tão melhor simplesmente salvar textos, fotos, vídeos etc. em um serviço externo, podendo acessar a qualquer momento, de qualquer dispositivo com acesso à internet. Era mágico. E isso sem ocupar espaço na memória do seu computador. Eis a nuvem. Enfim estávamos livres de uma vez por todas da poluição causada por toneladas de papéis impressos, de toda aquela tinta, de embalagens desnecessárias e do espaço ocupado por discos rígidos e DVDs. Não poluiríamos mais. Só que não. A nuvem pode ser uma mágica eficiente e incrível, mas ela não brota do nada. Para fazê-la acontecer, é preciso outra tecnologia, também muitas vezes comparada à magia há alguns séculos: a eletricidade. E a eletricidade que alimenta a nuvem vem, na maior parte, da queima de carvão. A nuvem polui. E muito. 

Cada vez que você posta uma foto no Facebook ou assiste a um vídeo no YouTube, no celular, no tablet ou no computador, todo um sistema de plataformas eletrônicas, conhecidas como data centers, é acionado. Essa infraestrutura é formada por dezenas de fileiras recheadas por servidores, que são sistemas de computação centralizadores que fornecem informações a laptops, tablets e celulares. Eles fazem, basicamente, a nuvem funcionar. E ela, é claro, não para nunca. Seu consumo de energia idem. Em 2010, um estudo do Greenpeace estimou que essa demanda era de 623 bilhões de kWh. Os mais de 2 bilhões de pessoas na internet consomem mais energia do que grandes países inteiros, como Brasil, Índia e Alemanha. E isso deve aumentar. "Tirando seu caderno, tudo está migrando para a nuvem.

Suas músicas, fotos, sua agenda", diz Ricardo Baitelo, coordenador da campanha de clima e energia do Greenpeace Brasil. Mas essa é uma fração pequena do consumo de energia. De acordo com uma pesquisa da empresa de consultoria McKinsey & Company, a maior parte dos centros de dados tradicionais emprega apenas de 6 a 12% dessa energia no processamento de dados. Todo o restante serve para manter o sistema de sobreaviso para atender a picos de acessos e evitar interrupções no fluxo de dados. Em suma, para que sites de notícia não deem pau durante as eleições americanas, por exemplo, há um gasto brutal de energia. E a maior questão é que 45% da matriz energética dos Estados Unidos, lar da maior parte dos mais de 30 milhões de data centers do mundo, vem do carvão mineral queimado em usinas termelétricas, que emitem gás carbônico e contribuem para as mudanças climáticas causadas pelo efeito estufa. Mas há uma boa notícia: a internet pode continuar funcionando (e crescendo) com menos poluição.

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