Pesquisa mostra irregularidades na rotulação de milho transgênico em fubá, farinha, pipoca e canjica

Postado por Ricardo Pimentel Maluf
Atualmente, o Brasil tem a segunda maior produção de transgênicos do mundo. Em 2012, cerca de 89% da soja, 76% do milho e 50% do algodão plantados no nosso país eram geneticamente modificados. As informações são do Idec (Instituto de Defesa do Consumidor), que avaliou se rótulos de alimentos à base de milho informam corretamente os consumidores quanto à presença de ingredientes transgênicos – por decreto federal, é obrigatório usar o símbolo “T” dentro de um triângulo amarelo e fazer a descrição da espécie doadora dos genes na lista de ingredientes quando o produto tem mais de 1% de composição dessa natureza.


Festa Junina Transgênica
Foram analisadas cinco categorias de produtos alimentícios que contém milho (farinha de milho amarela, fubá, milho para pipoca tradicional, milho para pipoca para micro-ondas e canjica de milho branca), de quatro marcas comuns nos mercados: Mestre Cuca, Yoki, Hikari e Kisabor.

A análise foi feita a partir do rótulo dos produtos e do contato com o Serviço de Atendimento ao Consumidor para tirar dúvidas – ou seja, o Idec não fez análises laboratoriais para confirmar o que é declarado pelas empresas.

Outro ponto foi avaliar se a forma pela qual a informação está sendo transmitida é clara eevita disfarces nas embalagens como o símbolo T em local e tamanho inadequados, ausência da descrição obrigatória da espécie doadora e mensagens que possam confundir o consumidor, como “Aprovado pela CTNBio” (Comissão Nacional de Biossegurança) abaixo do símbolo T.

Resultados

FUBA YOKI

- Farinha de milho amarela e fubá
Todas as embalagens são rotuladas. Duas delas, Mestre Cuca e Yoki, não informam a presença da espécie doadora, o que, na avaliação do Idec é considerada inadequada. (Parece que está cada vez mais difícil comer um bolo de fubá quentinho que não seja transgênico…)

- Milhos para pipoca (tradicional e de micro-ondas)
Apenas a Kisabor revela que é transgênica na embalagem. Segundo o Idec, a Yoki teria informado que todos os seus produtos provenientes do milho são transgênicos – o que tornaria a falta do símbolo T nos rótulos dos milhos para pipoca uma conduta inadequada. Porém, em comunicado, a empresa garante que “o milho para pipoca tradicional, o milho de pipoca para micro-ondas e a canjica de milho branca são produtos convencionais, ou seja, não transgênicos.” A Yoki também afirmou que não foi procurada pelo Idec no período dos testes.

A marca Hikari respondeu da seguinte forma:
“A Hikari, juntamente com os seus fornecedores, tem trabalhado atentamente as informações dos produtos transgênicos e, neste caso, a empresa manteve suas compras de produtos não transgênicos até onde foi possível e não tivemos mais opção, pois as produções de milho no Brasil são praticamente todas de origem transgênica, com exceção dos Milhos para Pipoca que ainda estão garantindo até o final de 2013. Portanto, o milho para pipoca tradicional e para microondas não são de origem transgênica”.

- Canjica de milho branca
Hikari e Kisabor são rotuladas adequadamente. Pelo mesmo motivo do caso dos milhos para pipoca, o Idec considerou a rotulagem da Yoki inadequada. A empresa respondeu dizendo que as embalagens não trazem o símbolo porque o produto não é transgênico. “A Yoki já sugeriu ao IDEC a revisão da pesquisa mencionada, já que as afirmações da mesma estão equivocadas”, afirma o comunicado da empresa, que você pode ler, na íntegra.
A questão da rotulação
A obrigatoriedade de rotular alimentos transgênicos não é unanimidade. O deputado federal Luis Carlos Heinze (PP/RS) apresentou um projeto de lei que propõe o fim desse tipo de rotulagem. No seu site, o deputado argumenta que o símbolo amarelo provoca medo nos consumidores. “Ora, sabe-se muito bem que uma legislação que obriga a identificação de ingredientes transgênicos por meio de um triângulo amarelo — normalmente utilizado para placas de existência de risco, conforme a norma ISO nº 3864/02 —, em vez de garantir ao consumidor o direito à plena informação, afasta-o de qualquer avaliação racional, uma vez que provoca medo no consumo e induz ao repúdio desses produtos”.

Heinze diz ainda que a rotulagem atual é contraditória diante das constatações científicas e das políticas de desenvolvimento do governo brasileiro. “A norma de rotulagem também não pode impedir o desenvolvimento de uma área extremamente estratégica para o país, a biotecnologia — setor para o qual o governo brasileiro possui uma política de fomento que prevê investimentos da ordem de R$ 10 bilhões até 2017, entre recursos públicos e privados.”
Para o Idec, o projeto é um retrocesso e “contraria o direito básico do consumidor à adequada informação sobre produtos lançados no mercado assegurado pelo Código de Defesa do Consumidor, além de inconstitucional por ofender o princípio da precaução e da defesa do consumidor”. O Instituto também lançou um abaixo-assinado na Campanha Fim da Rotulagem de Transgênicos: diga não!, que defende a permanência da rotulagem.

Saiba mais sobre a pesquisa do milho transgênico neste link.

Imagens: 1. SXC.HU; 2. Divulgação

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