A poluição atmosférica, causada em boa parte devido às
emissões do setor de transportes, está presente em muitas cidades, e, como a
porção de habitantes urbanos tende a crescer dos atuais 50% para 70% da
população mundial em 2050, esse é um problema que atingirá cada vez mais
pessoas. Por isso, é necessário refletir sobre alternativas mais limpas para o
transporte urbano.
Pensando nisso, o Instituto de Políticas de Transporte e
Desenvolvimento (ITDP) lançou nesta semana no VII Fórum Urbano Mundial um mapa que aponta iniciativas de
transporte em cidades de todo o mundo que criaram formas mais sustentáveis para
a população se locomover sem precisar depender necessariamente de automóveis
particulares.
Além disso, as medidas muitas vezes criaram um
desenvolvimento urbano que também trouxe vantagens sociais, de saúde e
econômicas para a cidade como um todo, dinamizando as regiões contempladas
pelos projetos.
As iniciativas abordadas no mapa, denominadas
Desenvolvimento Orientado ao Trânsito (TOD), contemplam oito principais
critérios: caminhada (desenvolver bairros que promovam caminhada), ciclismo
(priorizar redes de transporte não motorizado), conexão (criar redes densas de
ruas e caminhos), trânsito (implementar o projeto perto de transportes públicos
de alta qualidade), mistura (planejar o uso misto, como comercial e
residencial), densificação (otimizar a densidade e capacidade de trânsito),
compactar (criar regiões com trajetos curtos) e mudança (realocar
estacionamentos e o uso de ruas para aumentar a mobilidade).
Assim, de acordo com as categorias atendidas pelos projetos,
eles foram classificados em: bronze (de 55 a 69 pontos), ou seja, projetos que
satisfazem alguns dos objetivos de boas práticas no TOD urbano; prata (70 a 84
pontos), projetos que atendem a maioria dos objetivos de boas práticas com um
alto nível de qualidade e integração; e ouro (85 a 100 pontos), projetos de
desenvolvimento urbano que são líderes globais em todos os aspectos de
transporte integrado e design urbano.
Na categoria bronze, um dos projetos é a Neo SuperQuadra, em
Curitiba, que marcou 63 pontos. A iniciativa é um conceito urbanístico que
consiste em um grande terreno que oferece serviços diversificados à população,
diminuindo a necessidade de se deslocar grandes distâncias para realizar
diferentes tarefas. A Neo SuperQuadra também desenvolve locais que favorecem a
convivência, como praças, parques, ligação entre ruas etc.
O principal critério contemplado é o trânsito, pois o
projeto é atendido por um sistema de BRT que o conecta ao resto da cidade. O
BRT de Curitiba foi pioneiro em uma forma de transporte em massa inovadora e
acessível, tendo sido implementado posteriormente em outras partes do mundo.
Na categoria prata, umas das iniciativas é a Reforma 222, na
Cidade do México, que marcou 75 pontos. O projeto criou um microcosmo na cidade
com escritórios, residências, lojas e lazer em um sistema altamente compacto,
conectado e feito para ser percorrido a pé. O varejo na Reforma 222 é ancorado
por uma rua de lojas fechada por vidro que se estende por todo o complexo.
Nesse caso, o principal critério atendido é a mistura. Dessa
forma, quando uma área contém uma mistura equilibrada de atividades (residenciais,
comerciais, recreativas e de varejo), as distâncias percorridas diariamente
tendem a ser menores e feitas a pé. Além disso, os picos de uso de cada
atividade são diferentes, tornando as ruas movimentadas e seguras e promovendo
um ambiente acolhedor.
Já na categoria ouro, um dos projetos é o Central Saint
Gilles, em Londres, na Inglaterra, que marcou 99 pontos. A iniciativa, que foi
a mais bem classificada de acordo com o padrão TOD, oferece restaurantes,
lojas, residências e pouco estacionamento para carros (a maior parte reservada
a portadores de necessidades especiais). O complexo é organizado em torno de
uma praça pública e tem um amplo estacionamento de bicicletas.
Aqui, o principal critério contemplado é a mudança. O
entorno foi repensado de forma a priorizar os pedestres e usuários de veículos
não motorizados, já que o projeto oferece diversos serviços e permite que os
deslocamentos sejam pequenos. Assim, os espaços antes utilizados para esse fim
foram realocados para usos mais produtivos social e economicamente.
Além do mapa, outras medidas estão sendo adotadas no Fórum
Urbano Mundial visando uma mobilidade mais sustentável: na terça-feira (8), foi
lançada a Greener Cities Partnership. A parceira do Programa das Nações Unidas
para o Meio Ambiente (PNUMA) e o Programa das Nações Unidas para Assentamentos
Humanas (ONU-Habitat), que deve durar de 2014 a 2016, pretende incorporar a
perspectiva ambiental no planejamento de políticas urbanas, ao mesmo tempo que
incorpora perspectivas urbanas em políticas ambientais.
A África será a primeira área de atividade da parceria, que
visa estabelecer um fórum para promover o transporte sustentável e apoiar o
desenvolvimento de um plano de ação de transporte sustentável no continente
africano, em especial no Quênia, onde as duas organizações têm sede na capital,
Nairóbi.
“A Greener Cities Partnership gerará uma melhor compreensão
de como a eficiência dos recursos impacta a resiliência das cidades, e visará
criar um apoio político para o estabelecimento de uma iniciativa inovadora para
cidades resilientes e eficientes em recursos”, observou Achim Steiner, diretor
executivo do PNUMA.
Outro projeto lançado no fórum está ajudando cidades na
Índia a desenvolverem sistemas de transporte de baixo carbono que sejam sustentáveis
e inclusivos, através da capacitação de consultores e interessados em nível
municipal. A iniciativa durará três anos e será financiada pela Iniciativa
Climática Internacional do governo alemão.
“Garantir que o futuro crescimento urbano não resulte em
mais degradação ambiental representa um dos maiores desafios do desenvolvimento
atualmente”, concluiu Steiner.
Fonte: Instituto Carbono Brasil