No VII Fórum Urbano Mundial,
diretor executivo do ONU-Habitat afirma que desenvolvimento urbano deve superar
os desafios de desigualdade, insegurança, falta de mobilidade e migrações
descontroladas para garantir futuro sustentável
A cidade de Medellín, na Colômbia, foi, nas décadas de 1980
e 1990, uma das cidades mais violentas do mundo, mas desde então passou por
transformações, como programas sociais e urbanísticos, que possibilitaram, por
exemplo, a redução de 92% na taxa de homicídios. Essa regeneração, é claro,
ainda não é completa, mas é suficiente para que a cidade sirva de referencial
para a implementação de programas semelhantes em outras partes do mundo.
“Medellín não é uma cidade resolvida, há desigualdades, há
injustiças, mas é uma cidade que demonstrou que é possível avançar, que se pode
deixar para trás a dor, que se pode derrotar a escuridão; é uma cidade
resiliente, uma cidade que inspira”, observou Aníbal Gaviria, prefeito do
município.
E é com esse tipo de exemplo que o VII Fórum Urbano
Mundial, que iniciou no último sábado (5) em Medellín, espera poder
inspirar seus participantes neste ano, quando tem como tema principal
‘Patrimônio Urbano em Desenvolvimento – Cidades para a Vida’.
No evento, os cerca de 25 mil participantes de diversos
países discutem os desafios urbanos que o mundo enfrenta hoje, como
desigualdade, insegurança, falta de mobilidade e migrações descontroladas, para
alcançarem um desenvolvimento urbano sustentável e equitativo. Eles também
debatem os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM), que abordam essas
questões.
Segundo as Nações Unidas, a população mundial tem se
concentrado cada vez mais nas cidades, o que significa que elas reúnem tanto a
causa quanto a solução de grande parte dos atuais problemas mundiais.
“Nas atuais taxas de crescimento urbano, nos próximos 30
anos poderemos dobrar a urbanização dos últimos dez mil anos. [Por essa razão]
queremos um fórum urbano mundial realista, que aborde a realidade, em uma
cidade real que tem desafios reais e os está enfrentando”, comentou Joan Clos,
diretor executivo do ONU-Habitat. “Não há desenvolvimento sustentável se a
urbanização não for sustentável”, acrescentou Clos.
Um dos assuntos abordados pelo encontro será o foco em
habitações adequadas e a posse da terra na agenda global de habitação.
“Essa conferência enfatiza como uma habitação decente é
crucial para uma sociedade mais justa e próspera. Habitações adequadas e a
posse segura são bases fundamentais para quebrar o ciclo da pobreza, e elas
devem ser foco de qualquer meta de desenvolvimento de cidades sustentáveis”,
disse Jonathan Reckford, CEO da organização não governamental Habitat for
Humanity International, que comandará esse debate.
Nesta terça-feira (8), Reckford inicia a mesa-redonda da
sociedade civil intitulada ‘A new Urban Agenda responsive to people’s
priorities for an equitable urban future’ (‘Uma nova agenda urbana responsável
pelas prioridades das pessoas para um futuro urbano equitativo’).
A reunião formulará recomendações para o Grupo de Trabalho
Aberto das Nações Unidas para o desenvolvimento de uma agenda global pós-2015 e
estratégias para influenciar o desenvolvimento de uma nova agenda urbana que
leve a uma Terceira Conferência da ONU sobre Habitação e Desenvolvimento Urbano
Sustentável (Habitat III) em 2016.
“Nossa meta sempre foi ver um mundo em que todos – e
queremos dizer todos mesmo – tenham um lugar decente para viver. Devemos dar
prioridade à abordagem das condições das favelas, impedir o crescimento em tais
condições e aumentar o acesso à terra e à transparência dos direitos de
propriedade”, declarou Renee Glover, relatora da mesa-redonda e presidente do
conselho da Habitat for Humanity International.
Outro tópico a ser discutido é o maior engajamento da
comunidade no planejamento e desenvolvimento urbano, do qual a Cruz Vermelha
fará parte. A Federação Internacional das Sociedades da Cruz Vermelha e do
Crescente Vermelho (FICV) pede que governos, sociedade civil, organizações
internacionais, corporações e outros parceiros aumentem sua colaboração na
busca por esse objetivo.
De acordo com a FICV, a experiência da organização mostra
que uma falta de engajamento da comunidade, pouco acesso à informação, falhas
no financiamento e implementação fraca das leis e regulamentações existentes
pode impedir o desenvolvimento.
“O planejamento é um processo que deve ser centrado nas
pessoas. As comunidades devem estar no centro da tomada de decisões e processos
legislativos para que o desenvolvimento seja efetivo”, defendeu Walter Cotte,
subsecretário-geral da Divisão de Programa de Serviços da FICV.
“Uma mudança é necessária para focar nos resultados e
impactos reais, nos quais o planejamento e desenvolvimento urbanos envolvem engajamento
sustentável, que deve ser explicitamente participativo, inclusivo e, acima de
tudo, prestar contas às pessoas que estão em risco”, acrescentou Cotte.
Em se tratando de grupos que sofrem com riscos urbanos, o
fórum conta também com mesas temáticas de gênero e mulher, investigadores
urbanos, jovens e direitos humanos, povos indígenas etc.
O evento destinado às discussões de gênero promoveu no
sábado uma caminhada para debater a exploração sexual sobre as mulheres, com o
objetivo de pedir a compreensão e comprometimento de autoridades locais e
tomadores de decisão sobre as condições que afetam as percepções de insegurança
das mulheres nas cidades.
Por exemplo, muitas mulheres e meninas que vivem em
comunidades urbanas vulneráveis em todo o mundo continuam a enfrentar todos os
dias problemas como violência doméstica e assedio sexual. Assim, a criação de
espaços públicos seguros em que mulheres e meninas possam ter o mesmo acesso a
serviços urbanos é tanto uma questão de saúde quanto de direitos humanos
básicos, defenderam os participantes.
Tecnologia para um melhor desenvolvimento urbano
Suportes tecnológicos também estão sendo utilizados durante
o VII Fórum Urbano Mundial para apresentar possibilidades para uma urbanização
mais sustentável. Um exemplo disso foi a apresentação de mapas animados
desenvolvidos pela Universidade de Nova Iorque que mostram o crescimento
demográfico de 27 cidades nos últimos 130 anos.
Entre os municípios, estão cidades como São Paulo, Paris,
Los Angeles e Chicago. Os mapas foram criados a partir de informações do ‘Atlas
de Expansão Urbana’ e foram animados pela empresa equatoriana Imaginaria 3D.
“Particularmente impressionante é o crescimento na segunda
metade do século 20, quando muitas cidades aumentaram sua área construída em
mais de dez vezes. Isso está de acordo com a teoria da queda da densidade, que
sustenta que as cidades se tornaram maiores, o mundo se urbanizou e as densidades
têm caído. Como resultado, as cidades exigem mais terra urbana por pessoa, o
que significa que o crescimento total na área da cidade é muito maior do que o
crescimento populacional”, explicou Patrick Lamson-Hall, participante do
projeto.
Os pesquisadores por trás do desenvolvimento dos mapas
esperam que tornar a expansão dos municípios mais visível estimule os
planejadores a pensarem no desenvolvimento urbano de uma forma mais
‘visionária’.
“Quando se diz ao legislador que precisamos começar a nos
preparar para uma expansão de cinco, seis, sete vezes em uma cidade, muitas
vezes se é desacreditado. Mas quando se pode realmente ver quão dramaticamente
[as cidades cresceram] com o tempo, isso se torna muito mais real”, refletiu
Brandon Fuller, diretor do projeto.
O VII Fórum Urbano Mundial ocorre até a próxima sexta-feira
(11).
Imagem: Desigualdade é um dos temas principais a ser
debatidos pelos cerca de 25 mil participantes do Fórum / WUF7
Vídeos: Expansão urbana de São Paulo e Paris /
Universidade de Nova Iorque
Fonte: Instituto Carbono Brasil