Vivemos uma época de profundas transformações ambientais. É
necessário rever hábitos e, de alguma forma, agir. Especialistas lembram
atitudes simples que dão resultado
Nos últimos anos, secas, alagamentos,
plantações arrasadas e outras mudanças têm deixado claro que é preciso fazer
algo antes que seja tarde demais. "Adotar atitudes sustentáveis tem muito
a ver com a nossa capacidade de resiliência: nos
transformamos e nos adaptamos depois de choques que exigem mudanças",
explica a geógrafa Denise Kronemberger, coautora do livro Desenvolvimento Local Sustentável - Uma Abordagem Prática (Senac),
e coordenadora da produção de indicadores de desenvolvimento sustentável no IBGE, critérios que medem a evolução dos assuntos
relacionados ao meio ambiente no Brasil, como diminuição de área verdeou acesso ao saneamento
básico. Sabe-se que o tom chato e distante que os temas verdes
ganharam dificulta transformações na área. Porém, há muito que você pode fazer.
1. QUESTIONE AS SUAS ATITUDES
O que significa sucesso para você? Para a maioria da população, a resposta é
morar em uma casa grande, poder viajar sempre e ter um salário gordo.
"Vivemos a lógica da competição: queremos ser melhores do que nossos
vizinhos e familiares", explica Sara. Não há nada de errado em buscar uma
vida confortável, como ela ressalta, mas não devemos nos basear nesses
critérios para definir se levamos uma trajetória satisfatória e feliz. Mais
importante é ter experiências gratificantes no dia a dia, saúde, bons amigos e
momentos de diversão.
Denise lembra do conceito de Felicidade Interna Bruta, uma
analogia ao Produto Interno Bruto (PIB), que mede o progresso do país não só
pelo dinheiro gerado mas também pela relação da nação com o meio ambiente e
pela qualidade de vida da população. "São essas as
coisas que devemos buscar", defende a geógrafa. Com esses conceitos na
cabeça, é necessário questionar diariamente as suas ações e motivações. O que
você busca no trabalho? Como fortalece suas amizades? O que faz para contribuir
com um desenvolvimento sustentável? Use essas respostas como guia na hora de
tomar decisões.
2. NÃO ESQUEÇA DO BÁSICO
Com uma situação tão alarmante, às vezes achamos que é inútil nos comprometer
com as pequenas atitudes, como diminuir o tempo do banho
ou levar sacolas reutilizáveisao supermercado. "A verdade é
que, neste momento, tudo conta", explica Sara. Vale, então, aquele esforço
para usar ao máximo o transporte público e
economizar na conta de luz tirando da tomada tudo que não estiver usando
durante o dia, como televisores, micro-ondas, fogão e computadores.
A reciclagem do lixo também
ajuda, assim como evitar o desperdício de comida.
"Em média, jogamos fora 40% dos alimentos que compramos para casa",
afirma a autora.
Em tempos de embalagens tamanho família, ela
sugere uma abordagem nova e que pode dar certo. Recomenda que, na hora de
comprar produtos que só sejam vendidos em grandes quantidades, você os divida
com amigos ou vizinhos. É a chamada compra colaborativa.
Se o saco contém dez maçãs, você paga por cinco e alguém paga a outra metade -
assim nada vai para o lixo. Parece difícil, mas pode ser muito prático,
principalmente para quem mora sozinho.
3. CONTROLE O CONSUMO
Que vivemos em uma sociedade que estimula o consumo, já sabemos. O que alguns
não imaginam, porém, é o enorme impacto disso no ambiente. Um processo de
produção gera poluição, pode levar a mudanças climáticas e ao aquecimento dos oceanos, além de afetar a fauna e a flora. "A
lógica da compra pouco consciente vai se tornarinsustentável em
um futuro próximo. Cabe a cada um de nós mudar essa mentalidade", diz
Denise.
Não é preciso eliminar o consumo, mas transformá-lo. Por exemplo, em vez de
comprar roupas para ter prazer, combine com amigos uma ida ao parque. O mesmo
acontece com outras iniciativas culturais, como feiras, mostras de arte ou um
piquenique. A própria economia vai se adaptar a esse processo, pois o parque
precisará de mais funcionários, de serviços novos, o que fará o dinheiro
circular.
Também devemos tornar mais orgânica a ideia de reutilizar e restaurar. Se um
móvel quebrou, antes de jogá-lo fora e comprar outro, pense se não há uma forma
de recuperá-lo, evitando assim mais lixo e produção. Há até sites que possibilitam
trocas de objetos e roupas pouco usados com outras pessoas em vez de jogá-los
no lixo.
4. ORGANIZE MOVIMENTOS LOCAIS
"Há uma tendência forte em todo o mundo de valorização de iniciativas
locais", conta Denise. "Organizamos dentro de comunidades menores,
como bairros, projetos eficientes para aquela região, colocados em prática com
a ajuda dos moradores."
Nesses reduzidos grupos surgem ideias inovadoras que, depois, podem ser
aproveitadas em maior escala pela cidade. "Há grandes empresas - e também
órgãos governamentais - querendo investir em boas ideias que aparecem nesses
ambientes", explica Sara. "Vi poucospainéis solares no
Brasil, e sei que o motivo disso é o alto preço do sistema, mas, se um bairro
quisesse fazer um projeto, poderia conseguir apoio de uma empresa para baratear
o produto, por exemplo".
Vimos no ano passado o aumento significativo de iniciativas do gênero, como as hortas comunitárias. Os pequenos grupos e até mesmo
pequenas empresas são a grande promessa do futuro, segundo os especialistas.
Eles serão as fontes de ideias criativas que vão nos levar a uma economia verde mais facilmente. Com o tempo, até
mesmo as grandes empresas devem adotar essas estratégias.
5. ENSINE E DÊ O EXEMPLO
"O desenvolvimento sustentável tem um funcionamento semelhante ao da natureza: em rede. Há interdependência entre todos os fatores e membros
que fazem parte do ciclo", explica Denise. Portanto, quanto mais gente
trabalhando nesse sentido, melhor para nós e para o planeta. Para tal, pais
precisam prestar atenção nos filhos. O que as crianças estão aprendendo na
escola? Quanto mais cedo a noção de sustentabilidade for
inserida, mais natural ela se tornará, assumindo um papel forte com o passar
das gerações.
Sabemos que, nas faculdades, o tema é praticamente inexistente. "Alunos de
administração, por exemplo, deveriam aprender a inserir o desenvolvimento
sustentável na gestão, assim, ela seria instintiva para eles quando passassem a
exercer cargos de chefia", diz Sara. É importante também que a criança
participe de atividades do gênero em casa.
Ela deve ajudar a lavar embalagens para
reciclagem ou controlar sozinha o tempo no banho. Os pais também podem pedir
que ela escolha brinquedos e roupas para doaçãoe não
estimular o consumo exagerado. Tudo isso gera comportamentos mais saudáveis
para a sociedade e o meio ambiente.
6. PRESSIONE EMPRESAS
Já que o consumo rege a nossa sociedade, ele também vira poder de barganha.
Você pode escolher se relacionar apenas com empresas que demonstrem preocupação ambiental. Por exemplo, o supermercado
que você frequenta dá aos funcionários salários e benefícios adequados? Compra
os produtos, como carne e vegetais, de origens certificadas que não prejudicam
o meio ambiente? Tem um plano de pouco impacto no meio ambiente como uso de iluminação natural para evitar o consumo excessivo
de energia elétrica? Há diversas maneiras de descobrir isso. A mais óbvia é
perguntar ao gerente ou conversar com os funcionários.
Mas, além disso, você pode verificar se a empresa tem selos oficiais de sustentabilidade ou pesquisar
relatórios recentes com os dados que tratem do assunto. "Também é possível
fazer pressão para conseguir atitudes mais impactantes", explica Sara. Ela
cita um exemplo pessoal: quando vai ao mercado, retira ainda no caixa todos os
produtos de suas embalagens recicláveis. "O
supermercado paga para retirar o lixo; portanto, quanto mais, pior. Com essa
atitude, ele vai passar a se preocupar em ter nas prateleiras produtos que
causem menos desperdício".
7. COBRE ATITUDES GOVERNANENTAIS
Às vezes, dependemos de aprovação oficial para conquistar o que queremos, como
alimpeza de um rio ou a melhoria do transporte
público. Seja qual for a exigência, é importante estar a par dos esforços do
governo nas diversas áreas de desenvolvimento. Um contato mais próximo com os
governantes - feito por meio de figuras influentes ou ONGs - gera bons
resultados. "Pergunte por que o governo não apoia certo projeto ou leve
até o conhecimento dele uma iniciativa promissora e peça ajuda", explica
Sara.
Muitas vezes, o distanciamento criado entre os governantes e o povo é o
responsável por impedir que bons trabalhos sejam realizados. O mesmo pensamento
serve para a hora de votar. Pesquise no
projeto do seu candidato quais os planos dele por um futuro mais sustentável, pois essa deve ser uma
preocupação constante da máquina pública atualmente. Pode ser desde a criação
de um parque até a implementação de um processo mais eficiente de recolhimento
e reciclagem de lixo. E, caso ele seja eleito, cobre a realização das
promessas.
8. FAÇA SEU MELHOR
É verdade: às vezes, dá preguiça ser sustentável, pois parece um esforço a mais
em uma rotina já corrida. É por isso que Sara defende a ideia de fazer o suficiente,
sem grandes cobranças. Se você tiver uma apresentação importante no trabalho,
por exemplo, e quiser pegar um táxi em vez de recorrer ao transporte público
que usa todo dia, precisa se permitir. O policiamento pessoal muito rígido vira
uma coisa chata e nos leva a desistir mais facilmente. Portanto, respeite a sua
vontade em algumas escapadas, cuidando apenas para que não se tornem tão comuns
a ponto de virar o comportamento normal.
Pense também que, às vezes, mesmo que estejamos sem vontade de contribuir, há
coisas significativas que não exigem muito trabalho. "A internet é uma
ferramenta poderosa para ajudar no desenvolvimento sustentável hoje",
afirma Sara. Principalmente os jovens, que estão conectados o dia todo, podem
usar as redes para divulgar bons projetos, iniciativas e empresas que fazem
trabalhos legais. Assim, outras pessoas se sentirão estimuladas a buscar esses
serviços.
Fonte: Planeta Sustentável.