Detentor da maior biodiversidade do mundo, o Brasil tem
chance de se transformar em referência mundial no desenvolvimento de produtos
originados das riquezas naturais, mas, para isso, terá de buscar mais
qualificação da mão de obra e remover entraves como o excesso de burocracia e a
falta de uma legislação adequada à bioeconomia. A conclusão está em uma
sondagem da Confederação Nacional da Indústria (CNI) com empresários,
pesquisadores, representantes do Legislativo e do governo federais.
O levantamento, apresentado hoje no 3º Fórum de
Bioeconomia-Políticas Públicas e Ambiente para a Inovação e Negócios no Brasil,
mostra que a maioria dos entrevistados (92%) aposta no desenvolvimento do país
nessa área. No entanto, 78% dos entrevistados dizem que “não há segurança
jurídica” para isso.
A pesquisa ouviu 100 representantes da indústria, 40
ocupantes de cargos no governo federal e no Congresso Nacional e 20
representantes da área acadêmica. Destes, 77,5% consideram insuficiente o apoio
à pesquisa e 65,6% dizem que é preciso adequar o marco regulatório. Para 55,6%,
falta mão de obra qualificada no Brasil.
Entre os que responderam às perguntas, mais da metade (51%)
tem expectativa de ampliação dos investimentos privados no setor nos próximos
três anos. Em comunicado sobre a pesquisa, a CNI destaca que a Organização de
Cooperação de Desenvolvimento Econômico prevê que, em 2030, o setor da
biotecnologia industrial receba aplicação de recursos em torno de 300 bilhões
de euros.
Por enquanto, prevalecem os investimentos em
biocombustíveis, seguidos pelas aplicações em bioquímicos e bioplásticos.
O presidente da GranBio e representante da Mobilização
Empresarial pela Inovação (MEI) da CNI, Bernardo Gradin, destaca que a
bioeconomia é “um caminho absolutamente estratégico" tanto para a energia
quanto para o desenvolvimento da produtividade nos países que dispõem dela.
"Não tem como o mundo achar que continua crescendo onde 1 bilhão [de
pessoas] consomem o equivalente a 6 bilhões e que outros 6 bilhões não vão
consumir um dia”, afirma Gradin.
Ele alerta que, se o atendimento de toda a demanda mundial
depender da energia fóssil, haverá um esgotamento do planeta. “O planeta não
aguenta”. Para ele, a bioeconomia surge “não somente como a oportunidade de
pensar um planeta mais limpo, um ciclo de carbono mais limpo. É preciso buscar
outras formas produtivas com soluções [tiradas] da biologia sintética,
engenharia metabólica e dos micro-organismos.”
O diretor de Desenvolvimento Industrial da CNI, Carlos
Eduardo Abijaodi, acrescenta que por meio da bioeconomia é que se vai enfrentar
desafios como a escassez da água potável, a necessidade de maior produção de
alimentos, o envelhecimento da população, a mobilidade urbana e as mudanças
climáticas.
A economia é a capacidade de geração de riqueza e a
bioeconomia, a geração de riqueza baseada em todo um sistema de lógica e de se
replicar a vida. "Saímos de uma economia baseada em lastro mineral, que é
a economia do petróleo, com recursos finitos, para uma economia que dá um
horizonte de vida no planeta”, explica a coordenadora do Programa de
Propriedade Intelectual da CNI, Diana Jungmann.
Fonte: Agência Brasil