O ponto mais alto de South Tarawa, a capital de Kiribati,
sobrevive graças aos sacos de areia e rochas que travam o avanço da água do
mar. Ao mesmo tempo, do outro lado do Pacífico, decisores climáticos e políticos
debatem formas de controlar este aumento do nível do mar e de impedir que o
pequeno país fique submerso.
Porém, para a maioria dos habitantes de Kiribati que vivem
no gume afiado das alterações climáticas, o problema é um mal abstrato face à
pobreza calamitosa que enfrentam todos os dias. Metade da população deste país,
com cerca de 102.000 habitantes, vive na empobrecida South Tarawa. Grandes
famílias, muitas vezes com 20 ou mais elementos por casa, vivem em frágeis
construções apoiadas entre os coqueiros e no meio de animais domésticos e
pilhas de lixo.
Não há espaço para a privacidade. Quem não tem casa de banho
utiliza a areia branca da praia. As crianças passam o dia a nadar numa lagoa de
cor azul eléctrico, que serve como uma importante zona de pesca mas também de
esgoto a céu aberto. Por outras palavras, é a favela mais idílica do mundo.
A água potável da ilha está em crise perpétua e as reservas
subterrâneas estão poluídas e cada vez mais salinizadas pela água do mar que se
vai infiltrando. Alguma água que é tratada pelo Governo chega a algumas
comunidades, mas está disponível apenas algumas horas por semana. Para
minimizar a situação muitas famílias constroem tanques nos telhados das
habitações para aproveitar água das chuvas. Mas, por aqui, a chuva é cada vez
mais escassa.
Neste país o emprego escasseia e a maior parte da população
subsiste da pesca e da pequena agricultura. O peixe e o arroz compõem a maior
parte da dieta destas pessoas. 99,5% dos habitantes de Kiribati não comem
vegetais suficientes e quase um quarto da população sobre de diabetes, escreve
o Guardian.
As indignidades diárias e as debilidades criadas pela
pobreza tornam a diplomacia internacional irrelevante. Para os habitantes
destas ilhas do Pacífico, qualquer ação que seja agora tomada será demasiado
insignificante e demasiado tarde. A pobreza será o fator mais importante para
determinar que pessoas vão morrer ou ficar sem casa devido às alterações
climáticas. Os efeitos vão ser mais nefastos em locais como South Tarawa e não
por causa da geografia, mas sim por que em locais como este não existem
recursos para que as pessoas se possam defender do clima mais violento.
Porém, os habitantes destas ilhas parecem conformados e não
mostram qualquer rancor pela inação das nações ricas. “As alterações climáticas
estão a tornar o tempo muito quente. As chuvas são poucas. Quando há maré alta
sabemos que sobe muito mais que antes”, conta Tataio, uma habitante de
Kiribati. Na escola é ensinado às crianças o que são as alterações climáticas e
os seus efeitos. Mas muitas pessoas mais velhas e com menos educação têm um
conhecimento limitado das causas das alterações climáticas. Questionada sobre o
que é o aumento do nível do mar, Tatatio sorri e abana a cabeça. “Dizem que
talvez dentro de 30 anos Kiribati vá desaparecer. Não sabemos o que vai
acontecer. Mas eu estou sempre feliz”, afirma Tataio.
Fonte: Green Savers