Morador da Maré coleta óleo para reciclagem a fim de financiar cinema na rua

Todas as semanas o música Beghá Silva projeta filmes para crianças nas ruas do Complexo de favelas da Maré, na zona norte do Rio de Janeiro
Fotos: Fábio Teixeira/UOL


Uma iniciativa que além de contribuir para a preservação do meio ambiente ainda insere socialmente crianças de baixa renda tem chamado a atenção no Complexo de Favelas da Maré, na zona norte do Rio de Janeiro. Lá, toda quinta, sexta e sábado, por volta das 19h, o músico Begha Silva, 56, escolhe um beco entre o sem fim de vielas e transforma a rua em um cinema a céu aberto. O público? Jovens que correm de encontro ao músico a cada nova sessão.


Segundo informações de Paula Bianchi, do portal UOL, Begha, que ganha a vida fazendo anúncios pela favela com uma caixa de som presa à inseparável bicicleta, teve a ideia em 2013, ao ver a curiosidade com que os pequenos acompanhavam o seu trajeto. Em novembro, orgulha-se, o 'cinema no beco' completa dois anos. "A comunidade não tem nada para as crianças", diz. "Cinema é caro demais, tudo dentro do shopping. Muitos pais não têm nem como pagar a condução, muito menos o ingresso."


Para financiar o projeto, o músico passou a recolher óleo usado pelos moradores e vender. Pesquisou na internet e orçou em R$ 2 mil o equipamento necessário. "Pensei, vou morrer de tanto catar óleo, mas a causa é nobre", diz. Acabou ganhando o projetor de uma rede de supermercados da comunidade, que em troca conquistou um anúncio vitalício na traseira da bicicleta, e a lona, que faz às vezes de tela, de uma ONG.

Filmes escolhidos por votação
Com o dinheiro do óleo reciclado, vendido a R$ 0,80 o litro, compra a pipoca e o refrigerante servido às crianças. Também conseguiu melhorar a "tecnologia" de transmissão, que consiste no projetor preso à bicicleta e ligado através de uma gambiarra de fios à caixa de som e à tomada mais próxima, geralmente cedida por alguma das casas vizinhas. "Todo mundo quer ajudar. Um vizinho traz pipoca, outro refrigerante, outro bolo."


No começo do ano, Begha venceu um edital da prefeitura do Rio que premia ações em favelas
Nos dias de chuva, negocia o espaço com alguma associação de moradores, mas gosta mesmo de ver as imagens tomando às ruas da comunidade. Sentadas no chão, cerca de 30 crianças costumam acompanhar, animadas, às sessões.

Geralmente animações e 'blockbusters' infantis, os filmes - DVDs piratas comprados pelo músico-, são escolhidos pelas crianças. Se tiverem mais meninos, lembra, é comum o ogro Shrek vencer a votação; se o público for de meninas, não tem jeito. A rua se enche com as músicas do conto de fadas "Frozen".

Educação ambiental
Antes Begha faz questão de passar um pequeno clipe com uma de suas músicas lembrando aos pequenos a importância de preservar a natureza, principal tema de suas canções. Sua única filha, Taína, 14, foi batizada em homenagem ao filme homônimo que conta as aventuras de uma indiazinha defendendo a Amazônia.


No começo do ano, Begha venceu um edital da prefeitura do Rio que premia ações em favelas. Quando receber a verba, planeja comprar uma bicicleta nova e desenvolver uma cartilha ensinando o ofício do cinema sob duas rodas para que outras pessoas possam reproduzir a experiência em suas próprias comunidades.

"Amanhã eles vão crescer e vão lembrar, 'tinha um cara que quando eu era criança fazia um cinema com uma bicicleta' e quem sabe isso ajude eles de alguma forma", conclui o benfeitor.
Fonte: EcoD

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