Termoelétricas chegam a consumir volume de água que abasteceria cidades de até 200 mil habitantes, revela instituto



Em geral as térmicas estão instaladas próximas a cidades e zonas industriais


Responsáveis por 23% da energia elétrica gerada no pais em 2015, as maiores usinas termoelétricas fósseis brasileiras causam grande impacto no abastecimento de água e na qualidade do ar nas regiões onde estão instaladas. Durante o seu processo de resfriamento, elas demandam, sozinhas, volumes tão grandes de água que poderiam abastecer municípios inteiros. A térmica de Pecém I, no Ceará, por exemplo, consome tanto quanto cidades de até 200 mil habitantes, do tamanho de Rio Claro ou mesmo do bairro paulistano de Itaquera. O problema é que 34% desses empreendimentos são resfriados por sistemas que consomem a maior quantidade de água e 62,9% deles estão localizadas em regiões em situação crítica ou preocupante quanto aos níveis de escassez de recursos hídricos.

Como em geral as térmicas estão instaladas próximas a cidades e zonas industriais, elas podem competir com o abastecimento da população ou mesmo com outras atividades, como a irrigação. O cenário mais preocupante está na região Nordeste, onde 90,9% das usinas estão em regiões críticas em recursos hídricos, seguido pela região Sudeste (61,9%) e Sul (55,6%), como mostra a tabela abaixo. Principal fonte de emissão de gases de efeito estufa (GEE) do setor elétrico brasileiro e de poluentes locais, as termoelétricas também podem comprometer a qualidade do ar e a saúde da população de seu entorno.

As conclusões são de dois novos estudos e de uma Plataforma de Energia inédita lançados nesta terça (22) em São Paulo pelo Instituto de Energia e Meio Ambiente (Iema), organização sem fins lucrativos dedicada a produzir e compartilhar informações para fortalecer políticas públicas com o objetivo de reduzir impactos ambientais em qualidade do ar, mobilidade urbana e geração de energia elétrica.

Motivado pelo crescente aumento da participação das termoelétricas na geração de eletricidade do país, o Iema vem se dedicando nos últimos dois anos a estudar os impactos dessas usinas no meio ambiente. O resultado das análises é uma série de notas técnicas sobre termoeletricidade e uma Plataforma de Energia online acessível ao público. A Plataforma é uma iniciativa inédita no país que reúne informações sistematizadas e integradas sobre as 88 termoelétricas movidas a combustível fóssil com maior geração de energia elétrica (70 em operação e o restante em construção ou que estão registradas na Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).

Elas representam 78% das usinas termoelétricas fósseis brasileiras em operação. A plataforma do Iema disponibiliza mapas interativos que permitem localizar cada uma das usinas e acessar detalhes técnicos de cada projeto, indicadores de uso da água, dados de licenciamento e de financiamento.


“Com a Plataforma, o Iema pretende oferecer dados e embasamento técnico que auxiliem órgãos públicos de meio ambiente e recursos hídricos na tomada de decisões sobre o setor termoelétrico”, afirma Kamyla Borges, coordenadora da área de energia do Iema. “Também queremos disponibilizar ao cidadão informações relevantes para o monitoramento ambiental da geração elétrica no país”.

O IEMA analisou o perfil de uso de água das térmicas a partir das informações apresentadas ao órgão ambiental durante o processo de licenciamento. Para avaliar o impacto das usinas nos recursos hídricos de cada região, o Iema sobrepôs o mapa das termoelétricas às informações da Agência Nacional de Águas (ANA) sobre as bacias do país consideradas críticas de acordo com a quantidade disponível de água. Diante da dificuldade de acesso aos estudos e aos documentos de impacto das usinas, o Iema desenvolveu uma metodologia para estimar o uso de água (captação e perdas) a partir de indicadores presentes na literatura.

Os entraves enfrentados pelo Iema para obter as análises de impacto das usinas na íntegra refletem a falta de transparência dos processos de licenciamento desses empreendimentos. Das 88 térmicas, foi possível acessar apenas 33 dos Estudos de Impacto Ambiental (EIA). Dentro desse grupo, 26 (78,8%) não apresentavam um balanço hídrico para que seu consumo de água pudesse ser corretamente avaliado. Mais de um terço das termoelétricas estão instaladas em bacias que não possuem um plano indicando as prioridades de uso da água na região. Em 76 usinas (86,4%), não foi possível acessar a outorga de uso de recursos hídricos, documento emitido pelos órgãos gestores de recursos hídricos que estabelece, entre outros critérios, a máxima captação de água permitida. “Este é um claro indicativo de que esses empreendimentos estão sendo aprovados sem que os órgãos públicos tenham a devida clareza de seu impacto na disponibilidade de água para o abastecimento e outras atividades essenciais à população”, afirma Aline Fernandes, pesquisadora do Iema.

A falta de acesso aos documentos dificulta uma avaliação técnica mais embasada de novas térmicas quanto ao uso de água. “É preciso melhorar a transparência desses processos para permitir que organizações independentes também possam coletar, sistematizar e analisar os dados de novos projetos”, diz Aline.


Impactos das térmicas podem ser mitigados
Atualmente já existem soluções tecnológicas para minimizar o consumo de água durante o processo de resfriamento das termoelétricas e reduzir as emissões de poluentes e gases de efeito estufa. Por isso, o Iema recomenda que os órgãos responsáveis considerem alternativas tecnológicas para o licenciamento de novos empreendimentos. O resfriamento a ar, por exemplo, diminui drasticamente o uso de água pela usina e, por conta do aumento da demanda mundial, atualmente já apresenta custo acessível. Apesar deste sistema ser adotado em vários países do mundo, apenas duas térmicas o utilizam no Brasil.


Existem tecnologias de controle de poluentes ainda não consideradas pelos empreendimentos que podem reduzir as emissões e que poderiam ser recomendadas pelos órgãos de licenciamento.

Veja abaixo os links para acessar as publicações completas e a Plataforma de Energia:


Fonte: EcoD

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