Comentário Akatu: o brasileiro
está refletindo mais antes de fazer uma compra, forçado pela crise econômica,
como diz o artigo abaixo, do administrador Hugo Bethelem, que integra o
Conselho Consultivo do Instituto Akatu. A crise é uma boa oportunidade para
levar as pessoas a praticar o consumo consciente, mas é essencial que essa
mudança de comportamento seja permanente. Para isso, é fundamental que as
pessoas percebam que seus atos de consumo impactam não só no seu bolso, mas na
sua vida, no meio ambiente e em toda a sociedade e na economia.
Será que o brasileiro está
evoluindo para o Consumo Consciente? Esta pergunta aparece numa pesquisa
realizada e publicada no caderno especial de Sustentabilidade do Estadão. A
resposta pela pesquisa é SIM. O ICC – Indicador de Consumo Consciente
desenvolvido pelo SPC Brasil e CNDL afirma: “as pessoas passaram a ter mais
consciência da utilização de bens por causa da crise econômica”. Opa! Então
estão evoluindo para o Consumo Consciente pela dor e não pelo amor!
Mas será que a culpa é dos
consumidores brasileiros ou dos varejistas brasileiros que ao sinal da primeira
crise (não que esta que estamos saindo não tenha sido brava, a pior desde o
plano Real) invadem as TVs, Jornais e folhetos nas casas do consumidores para
lhes oferecer “Promoções” , “Ofertas Imperdíveis”, “Leve mais e Pague menos”
(Mesmo quando o Consumidor não precisa, não quer, ou não sabe nem porque esta
comprando…outra pesquisa também do SPC aponta para 77% dos Consumidores entre
18 e 30 anos se arrependem de uma compra desnecessária que fizeram).
Onde está a consciência do varejo
nessa hora? Ao invés de ajudar na educação financeira de seus consumidores,
mesmo abrindo mão de ganhos imediatos ou vendas por impulso que na verdade só
alimentam uma grande frustração destes na sequência.
O Brasil há muitos anos é o
recordista mundial de reciclagem de latas de alumínio. Uau! Mas por quê? Por
consciência ambiental ou por sustentabilidade financeira dos milhões de catadores
no país que com isso vivem com uma renda superior a do salário mínimo? Ou seja,
reciclagem gera impacto financeiro positivo levando mais riqueza às comunidades
de catadores e permitindo que essa riqueza volte para a economia em forma de
consumo, mas qual consumo? Inconsciente ou consciente?
Desde que comecei a trabalhar com
o tema sustentabilidade (e garanto que tenho muito caminho a percorrer e
aprender) tenho me deparado com a velha desculpa do “Investimento” e o “Retorno
de longo prazo e só na imagem”. Tudo isso é muita miopia por parte de quem
lidera as companhias e tem ainda essa visão, pois sustentabilidade só será
sustentável se começar pelo “bolso” das companhias. Só assim terá a devida
atenção por parte dos dirigentes e demais stakeholders da operação.
Mas não podemos continuar
consumindo como se o mundo fosse acabar amanhã e nada sobraria para as próximas
gerações, aliás, aquelas que estamos vendo por aí. Hoje no planeta há 1,9
bilhão de seres humanos com menos de 15 anos (maior agrupamento entre todos os
outros), o que de um lado nos dá grande esperança no futuro, mas de outro nos
deixa apreensivos se nada deixarmos para eles. Afinal qual é o propósito da sua
vida? O quê você veio fazer neste planeta? Porque ao longo de nossa vida
consumimos recursos naturais e devolvemos cocô, xixi e lixo! Será que nossa
passagem pela Terra representa esse papel “animal irracional” ou fomos dotados
de um cérebro e acumulamos conhecimento através de nossa inteligência para
contribuirmos com um mundo melhor?
O resultado da pesquisa da ICC
aponta então para essa conclusão: o brasileiro é consciente quando dói no bolso
e não na consciência! Mas talvez a crise tenha deixado seu legado positivo, um
consumidor mais “consciente” - na verdade mais cauteloso - que tem medo de
comprar sem precisar (apesar das inúmeras tentações do varejo) e,
principalmente, devido aos juros escorchantes no Brasil, passou a ser muito
mais consciente em se endividar, emprestar seu nome a parentes e a amigos e
comprar sem saber se poderá pagar.
Mas nem tudo são notícias ruins.
Sim, o brasileiro está aprendendo uma lição positiva que vai perdurar e se
multiplicar. Dados da pesquisa ICC aponta as principais vantagens que os
entrevistados declararam ao praticar o Consumo Consciente: 37,1% afirmam que
economizar é fazer o dinheiro render mais, 21,6% se sentem satisfeitos por
saber que estão fazendo algo positivo para o futuro das gerações, 16,7% tem a
sensação do dever cumprido e que estão fazendo o que é correto para a
sociedade, 10,4% acreditam que estas atitudes de Consumo Consciente contribuem
para a melhoria nas condições sociais de uma forma geral. Crédito da Foto: Creative Commons/Caden Crawford
Fonte: Instituto Akatu