Do Berço ao Berço – como pensar circularmente

Imagine que, se depois de dois anos ou mais de uso de sua geladeira, você pudesse contactar o fabricante para troca do produto por outro mais atual, eficiente e que conservasse os alimentes de uma forma melhorada? Pois bem, este momento está chegando na medida em que as empresas e, principalmente, o consumidor começam a entender que o importante não é ser o dono da geladeira – no fundo um complexo emaranhado de fios, plástico, vidro, metal e borracha – mas sim, ter seus alimentos preservados de uma maneira adequada para seu ritmo de consumo.

Esse é o conceito que está sendo introduzido no Brasil pela consultoria KCA Consulting, representante da empresa alemã EPEA GmbH Berço ao Berço.
“Temos que quebrar a noção de sustentabilidade como ela é entendida, de minimizar ou reduzir o impacto ambiental, mas sim na maximização dos benefícios e impactos ecológicos positivos”. Explicou Alexandre Fernandes, arquiteto e sócio da consultoria que, após quase um ano de preparações, deve inaugurar suas atividades plenas no segundo semestre deste ano.
O conceito Cradle to Cradle, foi cunhado em 2002 pelo arquiteto americano William McDonough e o químico alemão Michael Braungart que perceberam a necessidade de mudar o pensamento sobre a produção, cujas ideias foram resumidas no livro Cradle do Cradle – Remaking the way we make things – Do Berço ao Berço – Refazendo o jeito que fazemos as coisas – . Hoje, o conceito é aceito tanto na Europa quanto nos Estados Unidos e já conta com um selo que poderá ser identificado pelos consumidores nas embalagens dos produtos emitido pelo Instituto de inovação Cradle do Cradle, na Califórnia.
Para simplificar o complexo conceito, a ideia é avaliar todo o processo de produção, uso e descarte de uma maneira cíclica onde não se produz resíduo, mas sim que cada etapa se insira dentro ciclo natural dos materiais que os compõem.
“O sistema de produção linear, que processa matérias-primas em fábrica para fazer produtos que são vendidos e depois descartados, foi inaugurado há uns 200 anos e agora está na hora de rever este conceito que deu certo, mas que nos trouxe até aqui com todos os benefícios e problemas que conhecemos”, lembrou Ana Ester Rossetto, administradora de empresas e sócia da consultoria. “Temos que pensar na economia circular”.
Voltando para a geladeira, a introdução desse conceito muda toda a relação não só da empresa com o meio ambiente, mas também com o consumidor. No fundo, como explicou Alexandre, você compra um serviço e assim não se preocupa com que equipamentos e materiais ele é prestado. A geladeira então é desmontada, seus componentes serão reintroduzidos no sistema produtivo de algum jeito e, outro equipamento potencialmente diferente será entregue ao consumidor.
“Na lógica circular não há descarte: tudo que sobra tem uma forma útil para outro ciclo, em um fluxo de materiais que se transformam”, ensinou Fernandes. “Isso abre novas oportunidades e novos modelos de negócios e força muito mais a necessidade de inovação”.
Parece familiar? E é. No Brasil, a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), aprovada em 2010, trata exatamente disso de uma forma indireta, onde os fabricantes são parcialmente responsáveis pelo descarte pós-consumo de seus produtos e, portanto, devem implementar programas de logística reversa. Também é um conceito familiar no meio rural, onde o descarte de alimentos e de colheita sempre foram usados para melhorar o solo.
Esse momento que vivemos no Brasil – da implantação da PNRS e do crescimento da consciência ambiental – está atraindo o interesse de muitas empresas pelo conceito Berço ao Berço, para se adequarem à nova lei e às exigências de seus consumidores.
A grande transformação, porém, só será possível quando as empresas prestarem atenção no uso de seus produtos, e na importância em conhecê-los profundamente, para identificar onde será necessária a mudança.
Antes da crise do setor automotivo, a Ford fez um projeto Berço a Berço e percebeu que seu negócio não era vender carros e sim vender segurança no transporte. O projeto desenhado visava entregar um carro que poderia ser usado pelo cliente durante cinco anos, que era o ciclo de inovação do setor automotivo, e que poderia ser trocado por um mais atual.
“O principal desafio será olhar para toda a cadeia de fornecimento para conhecer o nível orgânico de como se produz”, avaliou Ana.
A Ford nunca implantou o programa devido à profunda crise que abateu o setor automotivo americano no início do século XXI, mostrando que mudar a cabeça dos fabricantes é difícil, mas enfrentar as conjunturas da economia internacional, altamente competitiva e globalizada, pode ser bem mais complicado do que implantar a economia circular.
Referência (ABNT):

SPATUZZA A. Do Berço ao Berço – como pensar circularmente, 1 out. 2012. Disponível em: <http://revistasustentabilidade.com.br/do-berco-ao-berco-como-pensar-circularmente/>. Acesso em: 15 out. 2012. 


Fonte: Revista Sustentabilidade

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