Tartarugas marinhas: progressos e ameaças


O Projeto Tamar já tem resultados animadores, mas é preciso atenção para conter outras ameaças Foto: Projeto Tamar

Quem se ocupa da sobrevivência das espécies que habitam o nosso Planeta tem mesmo que ser vigilante e isso se aplica a todos nós. Ao mesmo tempo em que o Projeto Tamar anuncia um recorde de tartarugas marinhas gigantes fêmeas desovando no litoral do Espírito Santo, uma excelente notícia; o Laboratório de Ecotoxicologia do Centro de Energia Nuclear na Agricultura (Cena) da Universidade de São Paulo (USP), em Piracicaba, estuda a influência de pesticidas organoclorados e bifenilos policlorados (PCBs) no desenvolvimento da fibropapilomatose, doença que atinge as tartarugas-verdes, levando à formação de tumores que podem alterar a sobrevivência da espécie, já ameaçada de extinção.

O Projeto Tamar, patrocinado pela Petrobras, registrou recorde no País de tartarugas marinhas gigantes fêmeas (Dermochelys coriacea) encontradas desovando nas praias de Regência, Povoação e Pontal do Ipiranga, no município de Linhares, norte do Espírito Santo. Os dados são da base do Tamar que fica na Reserva Biológica de Comboios, considerada a única área regular de desova desta espécie de tartaruga no Brasil.

Na atual temporada, foram marcadas 27 fêmeas da espécie gigante, 11 a mais do que na última temporada (2011/2012). “Há indícios de que os primeiros filhotes desta espécie, protegidos nas temporadas anteriores, já estão voltando para desovar. As fêmeas recém-encontradas são novas e não tinham sido marcadas. Esse número é o recorde dos recordes e estamos falando de uma espécie que está ameaçada de extinção, explica o oceanógrafo do Projeto Tamar na base de Comboios, Henrique Filgueiras.

Segundo a International Union for Conservation of Nature (IUCN), que classifica o risco de extinção das espécies, esta é uma das espécies marinhas mais ameaçadas do mundo.

Desde 1982, o Tamar monitora e protege os ninhos que são depositados nas praias de Regência e Povoação, em Linhares. Os registros mostram que há 30 anos foram marcadas 15 fêmeas de tartarugas, sendo apenas uma da espécie gigante, ou tartaruga de couro, e 14 da espécie cabeçuda.

Abertura de ninhos
Janeiro e fevereiro são os meses de nascimento das tartarugas, sendo marcados pela abertura dos ninhos. O oceanógrafo lembra que neste período há nascimentos quase diariamente.
“Entre os meses de outubro e dezembro, acontecem as desovas, e nosso trabalho é monitorar e marcar as fêmeas e os ninhos. Em janeiro e fevereiro, é o pico de nascimento das tartarugas, e nós as monitoramos e as protegemos”, explica.

Em Regência, quando há algum ninho em frente à base com indícios de eclosão dos ovos, a comunidade é avisada e pode acompanhar de perto, junto com a equipe do projeto, a abertura dos ninhos e a ida dos filhotes para o mar.

Desde 1983, a Petrobras é a patrocinadora oficial do Projeto Tamar, que preserva as tartarugas marinhas ao longo da costa brasileira. O projeto desenvolve pesquisas e ações com o objetivo de afastar a ameaça de extinção, sendo referência mundial na preservação de tartarugas marinhas.

Impacto da poluição
A influência de pesticidas organoclorados e bifenilos policlorados (PCBs) no desenvolvimento da fibropapilomatose, doença que atinge as tartarugas-verdes é pesquisada no Laboratório de Ecotoxicologia do Centro de Energia Nuclear na Agricultura (Cena) da Universidade de São Paulo (USP), em Piracicaba.
A doença, que leva a formação de tumores, pode alterar a sobrevivência da espécie, que está ameaçada de extinção. O estudo identificou traços das substâncias nas tartarugas e os pontos do litoral brasileiro em que os animais apresentam casos de fibroapapilomatose.

“A tartaruga-verde está distribuída por todos os oceanos, nas zonas de águas tropicais e subtropicais, porém a espécie consta na Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN), que é o inventário mais detalhado do mundo sobre o estado de conservação mundial de várias espécies vivas”, afirma a colombiana Angélica María Sánchez Sarmiento, mestranda do Programa de Patologia Comparada da Faculdade de Medicina Veterinária (FMVZ) da USP, que participa da pesquisa. Além disso, a espécie também está classificada na lista vermelha da fauna brasileira ameaçada de extinção.

Angélica e a bióloga Silmara Rossi, doutoranda em Ecologia Aplicada no programa de pós-graduação interunidades entre o Cena e a Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da USP, em Piracicaba, levantam dados sobre tartarugas-verdes acometidas pela fibropapilomatose, tipo de doença tumoral benigna cuja causa é multifatorial e que pode alterar a sobrevivência dessa espécie marinha.

“A pesquisa busca determinar a presença dos pesticidas e PCBs nos tecidos de tartarugas-verdes afetadas ou não pela moléstia, comparando os resultados em áreas com diferentes taxas de prevalência da doença e estabelecendo uma possível relação com a fibropapilomatose”, aponta Angélica.

Monitoramento
As tartarugas-verdes estudadas foram resgatadas ou capturadas durante o monitoramento pelas bases dos projetos “Tamar-ICMBio” de Vitória (ES), Ubatuba (SP), Almofala (CE), Florianópolis (SC) e Fernando de Noronha (PE) e “Biopesca”, localizado na Praia Grande (SP). O trabalho é supervisionado pela professora Eliana Reiko Matushima, do Cena, e conta com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).

“Por meio do equipamento de cromatografia gasosa com detector de captura de elétrons existente no Cena, foi possível detectar a presença de PCBs, compostos considerados carcinogênicos, possivelmente associados à formação dos tumores”, aponta Silmara.

Outro dado relevante levantado pelas pesquisadoras é que as tartarugas-verdes estudadas em Florianópolis e Fernando de Noronha não acusaram registro da doença, enquanto que em Almofala, Ubatuba e Vitória existem muitos casos. “A análise envolve tartarugas provenientes de diversas localidades da costa brasileira, com e sem fibropapilomas”, explica a bióloga. “Qualquer mal relacionado à poluição é um fator relevante para a redução populacional desses animais e para o desequilíbrio dos ecossistemas.”

O Laboratório de Ecotoxicologia do Cena é especializado em avaliações de comportamento de pesticidas em solos, água e plantas. “O conhecimento acumulado nas pesquisas sobre o monitoramento dessas substâncias poderá fornecer uma grande contribuição para os resultados do estudo”, destaca o professor Valdemar Luiz Tornisielo, coordenador do Laboratório.

Fontes: Projeto Tamar / Petrobras – Agenusp/Assessoria de Impensa do Cena

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