Postado por Ricardo P. Maluf
Governos podem ainda neste ano lançar uma estrutura global para unir esforços nacionais e regionais de redução de gases do efeito estufa, uma jogada que os negociadores climáticos da ONU que se encontram na Alemanha nessa semana dizem que pode lançar as bases para um mercado mundial de carbono.
O plano uniria esquemas sendo desenvolvidos atualmente em nações como os Estados Unidos e a China em um única plataforma, encorajando governos a compartilhar ideias com o fim de, eventualmente, criarem um mercado global para ajudar a combater as mudanças climáticas.
“A ideia é começar a testar uma estrutura para incluir várias abordagens de mitigação em todo o mundo”, afirmou um negociador sênior, que falou sob condição de anonimato.
“Estaria [aberta] a qualquer um que quisesse se conectar voluntariamente a essa estrutura, para ver se ‘o software e o hardware’ estão lá para criar [algo] maior.”
As negociações climáticas da ONU têm a tarefa de lançar novos mecanismos de mercado que arrecadarão bilhões de dólares de financiamento do setor privado para ajudar países pobres a crescer economicamente de uma forma sustentável.
Mas as negociações têm tido pouco progresso na área, levando a Polônia a lançar a ideia a outros governos no começo deste ano.
O plano pode incluir o lançamento de um esquema piloto para avaliar o desenvolvimento de padrões comuns que podem, por exemplo, unir mercados de carbono existentes e futuros a esforços de mitigação ou iniciativas para diminuir taxas de desmatamento em países em desenvolvimento.
“Começou como uma ideia ambiciosa, mas foi ajustada para uma abordagem mais geral após umas poucas rodadas de consultas com as partes”, declarou Sven Braden, negociador de Lichtenstein.
“A esperança é que acabe por atrair diferentes mecanismos para tentar encontrar um terreno comum e ajudar a produzir propostas para novas abordagens baseadas no mercado.”
Outros Estados-membros sustentaram que o conceito ainda é vago e que precisará de mais trabalho nas negociações climáticas da ONU na Polônia em novembro, ou em um workshop de dois dias ainda não programado, ou após a reunião.
“No momento, é muito superficial, já que não há muitos detalhes. Dependerá de negociações formais [em Varsóvia] em termos do que acontecerá a ele”, colocou Artur Runge-Metzger, principal negociador da UE nas negociações climáticas.
Mercados
Mercados internacionais de carbono existentes sob o Protocolo de Quioto, tais como o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL) e a Implementação Conjunta (JI), são usados apenas por cerca de 35 signatários do acordo de 1997 para atingir metas climáticas.
Desse modo, países que nunca ratificaram o tratado (Estados Unidos), se retiraram dele (Japão), ou não foram obrigados a cortar emissões (China) não podem usar créditos desses mercados para atingir metas climáticas existentes ou futuras.
Qualquer nova estrutura a ser lançada em Varsóvia estaria sob a Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, o que significa que qualquer uma das cerca de 190 partes poderia participar.
Frustrado com os mercados de Quioto, o Japão criou seu próprio esquema de compensações e está pressionando por reconhecimento internacional para que as reduções feitas sob ele contem como o compromisso da nação para cortar emissões até 2020.
Um negociador japonês observou que sua nação apoiaria a proposta polonesa se fosse permitido que o Japão compensasse suas emissões através de seu Mecanismo de Crédito Conjunto.
“Estamos implementando um esquema real, então se essa proposta for uma fase teste sem nenhum significado específico para [as metas de] 2020, não teríamos muito interesse”, explicou Yuji Mizuno, diretor do Ministério do Meio Ambiente do Japão.
Grupos ambientalistas se opuseram à ideia da Polônia e pediram por uma revisão dos mercados de carbono existentes antes do lançamento de novos, observando que o MDL, a JI e os mercados de carbono da UE estão sofrendo com recordes de preços baixos devido a compromissos nacionais fracos.
“É uma receita para desastres”, comentou Kate Dooley, ativista da Third World Network.
“Em vez de aprender com essas falhas e descobrir o que houve de errado e [como] corrigir isso, os governos do norte, em particular, estão avançando essa discussão de mercados... com regras ainda mais frouxas e critérios de elegibilidade muito amplos.”
Traduzido por Jéssica Lipinski
Leia o original (inglês)
Fonte: Instituto Carbono Brasil