Postado por Ricardo P. Maluf
Mesmo sem um acordo internacional para cortar a liberação de gases do efeito estufa (GEEs), o mercado voluntário de carbono ainda cresceu 4% em 2012, com mais de 101 milhões de toneladas em emissões compensadas, divulgou o Ecosystem Marketplace em seu relatório anual ‘Estado dos Mercados Voluntários de Carbono’.
O valor total do mercado caiu 11%, com US$ 523 milhões empregados na compensação de emissões. Vários tipos populares de projetos tiveram o valor dos seus créditos reduzido levemente.
O setor privado europeu, incluindo produtores de energia regulados pelo esquema de comércio de emissões (EU ETS), foi o maior comprador das compensações voluntárias, sendo que a demanda subiu 34% para 43,4 milhões de toneladas.
Empresas norte-americanas, como a Walt Disney Company, Volcom e Chevrolet, compensaram mais emissões do que compradores de qualquer outro país, somando 28,7 milhões de toneladas. Os projetos domésticos foram os preferidos. Pouco mais de um terço das compensações adquiridas por norte-americanos foram obtidas para uso futuro no programa de cap-and-trade da Califórnia.
A média de preço paga pelas compensações no mercado como um todo foi de US$ 5,9/tonelada (em 2011 a média foi de US$ 6,2/t).
Compradores
Segundo uma pesquisa realizada para o relatório, um terço das compras para uso voluntário foi efetivada para “demonstrar liderança climática”, enquanto a responsabilidade social corporativa motivou 42% das transações.
No geral, o setor privado contratou 90% do volume de compensações. Multinacionais responderam por 36% da demanda, compensando 27 milhões de toneladas em 2012, seguidas das empresas médias e pequenas (31%) e corporações domésticas (13%).
Atividades
Além disso, US$ 80 milhões foram direcionados para projetos Gold Standard que distribuem fornos mais limpos – mais de quatro milhões deles ou outros equipamentos ‘limpos’ foram distribuídos para residências com a renda do carbono – e equipamentos para filtragem da água.
“Os projetos orientados para o desenvolvimento sustentável continuam a ganhar popularidade devido aos seus múltiplos benefícios para comunidades”, comentou Molly Peters-Stanley, principal autora do relatório e diretora associada do Ecossystem Marketplace.
As fazendas eólicas (na China, Índia e Estados Unidos) continuam sendo a maior fonte de compensações (15,3 MtCO2e) e as preferidas de compradores com menos dinheiro, já que são cotadas em cerca de US$ 3,3/t. A segunda fonte mais popular são os plantios de árvores (8,8 MtCO2e).
O VCS se manteve no topo da lista dos padrões para desenvolvimento e mensuração do carbono nos projetos, com destaque para o uso conjunto com o CCB. O Gold Standard também teve uma ascensão constante, especialmente pela aplicação de atividades de micro-escala relacionadas aos projetos de distribuição de equipamentos residenciais mais ‘limpos’.
Em relação à origem da oferta de créditos de compensação, a maior fatia é proveniente dos países asiáticos e em segundo lugar, da América do Norte.
Na América Latina, o volume de compensações transacionadas ficou relativamente estável com 7,2 MtCO2e, apesar da queda no valor médio das compensações. O setor de florestas ainda é o que mais gera compensações e os principais compradores dos créditos latino-americanos são os europeus.
O volume baixo de compensações geradas na América Latina pode sofrer mudanças em breve, já que o VCS fechou acordos com Brasil, Chile e Colômbia para fortalecer seus mercados de carbono, nota o relatório.
O potencial de redução dos projetos contratados em 2012 – avaliados nesta pesquisa – fica entre 54 e 233 MtCO2e ao ano ou entre 430 e 1.860 MtCO2e cumulativos em um período de oito anos. Para absorver a demanda, os desenvolvedores esperam um crescimento de 17% até 2020 no mercado.
Contratos
Uma porção significativa do valor de mercado (US$ 170 milhões) foi pago no ato da transação e não na entrega da compensação – especialmente via contratos à vista (35,6 MtCO2e, subindo 25% em relação a 2011) e pré-pagamento para entrega futura (8,7 MtCO2e, caindo 1%). Outros US$ 97,5 milhões serão pagos no futuro, quando e se os projetos contratados resultarem em reduções de emissão verificáveis.
“Isso reflete uma mudança significativa nas estruturas contratuais, favorecendo pagamentos antecipados, já que os volumes de toneladas verificadas cresceu ao longo do tempo, melhorando a confiança de que os projetos são capazes de verificar os cortes de GEEs e entregar compensações”, pondera o relatório.
A maioria das transações (98,5 MtCO2e) foi realizada bilateralmente, ou em balcão (OTC),em vez de ter intermediários como bolsas de valores.
Futuro
Os fornecedores de compensações demonstraram ao Ecosystem Marketplace preocupação de que o colapso do preço no EU ETS e a inelegibilidade de vários projetos de MDL após 2012 resultem na super-oferta de créditos nos mercados voluntários. Em 2012, as pesquisas rastrearam menos de 1 MtCO2e de créditos do MDL vendidos a compradores voluntários.
Assim, muitos fornecedores estão focando na conexão com esquemas emergentes de comércio de emissões, como na Califórnia, Austrália, África do Sul, China e várias iniciativas na America Latina.
Outros fornecedores estão mudando de foco, da simples compensação de emissões para políticas mais amplas e objetivos de sustentabilidade corporativa.
“Através de uma combinação destes e outros esforços para valorizar o perfil das compensações no mercado, os fornecedores lutam para continuar relevantes ao passo que os tomadores de decisão visam soluções cada vez mais amplas”, conclui o relatório.
Veja o sumário executivo do Estado dos Mercados Voluntários de Carbono (o relatório estará disponível na íntegra em breve http://www.forest-trends.org/vcm2013.php).
Fonte: Instituto Carbono Brasil