No ano passado, empresas como a Chevrolet, Marks&Spencers e Allianz continuaram a comprar voluntariamente créditos de carbono, contribuindo para a neutralização de 76 milhões de toneladas métricas de dióxido de carbono equivalente (tCO2e) – 26,7 milhões de toneladas a menos do que em 2012 –, reportou o Ecosystem Marketplace.
No relatório anual ‘Estado dos Mercados Voluntários de Carbono 2014’, cujo resumo executivo foi divulgado na semana passada, o Ecosystem Marketplace coloca que o valor total das transações caiu para US$ 379 milhões no ano passado, acompanhando a retração de 16% no valor médio da tCO2e para US$ 4.9/t.
Essa retração pode significar que milhões de toneladas deixaram de ser transacionadas voluntariamente, nota o relatório, especialmente devido à entrada em vigor do esquema de comércio de emissões da Califórnia. Assim, muitos compradores passaram a adquirir compensações para cumprir suas metas agora compulsórias.
“A ausência dessas transações norte-americanas do nosso relatório é um ganho, não uma perda, para os mercados voluntários de compensação”, comentou Molly Peters Stanley, diretora do Ecosystem Marketplace.
A venda de compensações nos Estados Unidos também cessou, refletindo a falta de expectativa de que um mercado nacional de carbono seja implementado.
A situação complicada na Austrália, onde a taxa sobre as emissões de carbono está sendo fortemente combatida pelo governo, também contribuiu com a retração, tirando ímpeto do mercado voluntário no país, notou o relatório.
Isso tudo significa que as empresas que compraram compensações no ano passado o fizeram por vontade própria, não por obrigação, aponta o Ecosytem Marketplace.
Quanto à queda no valor dos créditos de compensação, o relatório coloca que isso reflete o aumento da competitividade entre os fornecedores dessas unidades e o excesso na oferta.
REDD
As florestas novamente dominaram o mercado. Os projetos de REDD tiveram 22,6 MtCO2e transacionadas, um recorde para o setor, subindo 8,6 MtCO2e em relação a 2012.
Grande parte desse volume foi devido a um acordo histórico entre o banco de desenvolvimento alemão, KfW, e o estado do Acre, que concordou em retirar do mercado (‘aposentar’) pelo menos oito MtCO2e em créditos provenientes da preservação das florestas. O Acre se comprometeu a dobrar o volume acordado com o KfW.
Porém, o salto na demanda por projetos de REDD não veio acompanhado de um incremento nos preços, que caíram 44% para US$ 4,2/tonelada. O relatório atribui a queda ao fato que apenas cinco desenvolvedores transacionaram 38% de todas as compensações REDD a menos de US$ 3/t. O restante das quarenta transações relatadas tiveram preços entre US$ 3 e US$ 20/t. No total, o valor das transações envolvendo os projetos REDD subiu 35% para US$ 94 milhões.
Quanto à fatia de mercado de acordo com o tipo de projeto, as atividades de REDD dominaram o cenário com 38%, seguidas da instalação de fornos mais limpos (24%) e de fazendas eólicas (7%).
Os projetos envolvendo a instalação de fornos mais limpos na África tiveram uma queda nos volumes transacionados de 26%, e nos valores, de 18%, negociando 4,3 milhões de toneladas a um preço médio de US$ 9,2/t.
Compradores
As companhias europeias foram novamente as maiores compradoras ‘puramente voluntárias’, adquirindo 28 milhões de créditos de carbono, uma queda de 36% em relação a 2012, provavelmente devido à lenta recuperação econômica, ao pessimismo quanto ao esquema compulsório de comércio de emissões (EU ETS) e outros fatores.
Cerca de 90% dos créditos adquiridos em 2013 foram provenientes de clientes que já vêm negociando com os compradores há certo tempo. Isso mostra um compromisso das empresas com a compensação de emissões, mas também o desafio que o mercado enfrenta de atrair novos compradores, aponta o documento.
As empresas que responderam ao questionário enviado pelo EcosystemMarketplace para embasar o relatório disseram que tinham 31,8 MtCO2e em seus portfólios ao final de 2013, incluindo 12,6 MtCO2e para os quais 36 companhias disseram não ter encontrado comprador. Os respondentes também projetam um potencial pipeline de 277 MtCO2e até 2018.
A falta de compradores é confirmada pelo dado que mostra que a demanda vinda do setor privado caiu 46% para 35 MtCO2e – 20,3 MtCO2e foram atribuídas a grandes corporações. Entre os principais compradores estão empresas do setor de energia, transporte, finanças e seguros.
O “combate às mudanças climáticas” foi citado pelos compradores como a sua principal motivação. Responsabilidade e liderança corporativas continuam sendo motivadores proeminentes.
Quanto à preferência dos compradores, o padrão VerifiedCarbon Standard (VCS) continua em destaque, com aproximadamente 47% das transações do ano passado sendo associadas a ele (individualmente ou associado aos padrões CCB e Social Carbon). O Gold Standard teve 15% da fatia de mercado.
Os governos tiveram um papel importante no mercado voluntário em 2013, tanto como compradores como fornecedores de compensações.
Ao longo dos anos de atividade do mercado acompanhados pela publicação, os compradores voluntários financiaram diretamente o corte nas emissões de 844 MtCO2e, o equivalente a US$ 4 bilhões, a uma média de US$ 5,9/tCO2e.
Perspectivas
O relatório aponta que importantes avanços no final de 2013 e início de 2014 estão criando condições para que os projetos voluntários e seus padrões tenham novos papéis em mercados emergentes. Por exemplo, há possibilidade de alguns serem aceitos na África do Sul em complemento à taxa sobre o carbono.
Os novos planos da Agência de Proteção Ambiental (EPA) dos Estados Unidos para controlar as emissões de usinas de energia podem incentivar novos mercados.
.Na Califórnia, padrões voluntários já ganharam seu espaço no esquema de comércio de emissões, e novas avaliações podem abrir oportunidades, especialmente para o setor de REDD+.
Esquemas de mercado para a regulamentação das emissões também estão surgindo no Cazaquistão, Coreia do Sul, China, entre outros.
“Com os custos de mitigação e adaptação às mudanças climáticas subindo, é imperativo encontrar – e mercantilizar – eficiências que resultem tanto em cortes de emissões quanto em desenvolvimento sustentável. Esse, talvez, é o principal papel dos mercados de compensação voluntária – financiar a inovação, o compartilhamento de responsabilidades e soluções rápidas”, conclui a publicação.
Fonte: Instituto Carbono Brasil