A expansão das áreas protegidas deveria focar em
regiões que abrigam espécies ameaçadas, em vez de abranger terras com baixo
custo de preservação como vem acontecendo, apontam pesquisadores de diversas
organizações em um novo estudo publicado na PLOS Biology.
Eles concluem que 85% das mais de quatro mil
espécies de vertebrados vulneráveis no mundo não são suficientemente abrangidas
por áreas protegidas, uma vez que a criação dessas áreas tem levado mais em
conta o custo financeiro do que a importância biológica.
“Nosso estudo mostra que as atuais áreas
protegidas não cumprem seu papel efetivamente, deixando muitas espécies em uma
posição perigosa”, disse Oscar Venter, que liderou o estudo na Universidade de
Queensland (Austrália).
Os pesquisadores usaram dados de distribuição
dessas áreas e de espécies ameaçadas de aves, mamíferos e anfíbios para avaliar
a cobertura atual e futura dessas espécies sob a Convenção sobre Diversidade
Biológica (CDB).
O estudo levou em conta a movimentação iniciada
em 2010, quando 193 países assinaram – entre outros objetivos conhecidos como
Metas de Aichi – a CDB, comprometendo-se a aumentar a área protegida terrestre
para abranger entre 13% e 17% da superfície mundial até 2020 (Meta nº 11).
“Vários países estão trabalhando na direção da
maior expansão de áreas protegidas na história. Mas é vital que essa expansão
foque em terras que contenham flora e fauna ameaçadas, em vez da abordagem
‘business-as-usual’ de favorecer áreas que são baratas para proteger”,
enfatizou Venter.
Usando modelos de computador para simular
cenários para a futura expansão das áreas protegidas, os autores descobriram
que as novas propostas podem deixar de fora grande parte da biodiversidade.
O estudo mostra que a expansão das áreas
protegidas para 17% da superfície mundial abrangendo as regiões mais baratas,
mesmo se forem representativas ecorregionalmente, aumentaria o número de
vertebrados ameaçados cobertos em apenas 6%.
Entretanto, a relação não linear entre o custo
de aquisição das terras e a cobertura das espécies significa que cinco vezes
mais vertebrados ameaçados poderiam ser adequadamente protegidos por apenas 1,5
vezes o custo da solução mais barata. Isso se a tanto a eficiência financeira
quanto as espécies ameaçadas fossem incorporadas no processo de tomada de
decisão da área.
O professor associado James Watson, coautor do
estudo da Universidade de Queensland e membro da Wildlife Conservation Society,
disse que conectar critérios de fauna e flora ameaçadas com a amplitude das
novas áreas protegidas atenderia a dois compromissos assumidos pelas partes da
CDB – a meta n° 11 e a n° 12, que prevê o estancamento da perda das espécies
ameaçadas conhecidas.
“Quando essas metas são combinadas, os países
têm uma probabilidade muito maior de criar novos parques em áreas
biologicamente ameaçadas, o que levará a dividendos em longo prazo para a
conservação global”, notou Watson.
A pesquisa foi realizada pela Universidade de
Queensland em colaboração com a Sociedade de Conservação da Vida Selvagem,
Universidade James Cook, CSIRO Ecosystem Science, União Internacional para a
Conservação da Natureza (IUCN), BirdLife International, Universidade de Roma La
Sapienza, Universidade de Stanford e Universidade de Kent.
Fonte: Instituto Carbono Brasil