Uma reforma limitada do esquema de comércio de emissões da União Europeia pode não alcançar cortes significativos de CO2, já que a decrescente competitividade das tecnologias limpas é conduzida mais pelo preço do carvão em queda do que pelo valor do carbono.
A crise financeira cortou os preços, que alcançaram baixas recorde nos últimos meses, ao criar uma saturação no número de permissões disponíveis.
A Comissão Europeia quer estimular os preços ao racionar a oferta de EUAs a partir do próximo ano.
O objetivo é dedicar investimentos para fontes de energia de baixo carbono, como gás, energia nuclear e captura e armazenamento de carbono (CCS), bem como aumentar a eficiência, com a elevação do custo das emissões de carbono.
Porém, aumentar o valor do carbono também incrementa as contas de energia no bloco de 27 países, com os fornecedores repassando os custos mais altos de geração de eletricidade, um risco político significativo.
Na última semana, o Comissário de Energia, Günther Oettinger, sugeriu que os preços do CO2 deveriam dobrar para o esquema ser mais eficiente.
“Um preço de seis a oito euros não é um sinal para nada, nem para investidores e nem para consumidores”, disse ele à Reuters, preferindo uma variação de 12-18 euros.
Mas um olhar sobre a economia da geração de energia mostra que é a queda nos preços do carvão que está tornando a energia nuclear e o CCS especialmente não competitivos neste momento.
Os preços do carbono teriam que aumentar cerca de sete vezes em relação aos níveis atuais para tornar a energia nuclear competitiva com o carvão, por exemplo, e ir a níveis muito mais altos para tornar o CCS economicamente viável.
Da mesma forma, o preço do carbono de Oettinger, de cerca de 15 euros, não conseguiria tornar o gás competitivo em relação ao carvão porque os preços do carvão estão muito baixos.
A intervenção pode fazer sentido para levar os cortes de emissões a custos mais baixos, mas a comissão deve deixar explícito o tamanho do benefício, por exemplo, em restrições adicionais de carbono ou em economias de energia, antes de assumir o risco de aumentar as contas dos consumidores.
Custo do carbono
Todos os custos de geração para a vida útil de uma nova usina de energia podem ser comparados pelo carvão, gás, energia nuclear e o CCS em uma medida chamada de custo nivelado de energia (LCOE).
Uma parte importante do LCOE, especialmente relevante nesse sentido, é o custo do carbono.
Queimar carvão em uma usina de energia emite mais de duas vezes a quantidade de dióxido de carbono da queima do gás.
A queima de combustível na Europa é mais popular, e o carvão betuminoso emite 0,83 toneladas de CO2 por megawatt-hora (MWh) comparado às 0,37 toneladas do gás, de acordo com a Agência Internacional de Energia, que usa dados recentes da média dos países desenvolvidos.
O EU ETS assume que a energia nuclear não emite carbono, enquanto as usinas de CCS devem armazenar cerca de 90% das emissões da queima dos combustíveis fósseis.
A partir de 2013, usinas de energia na Europa Ocidental terão que comprar permissões de carbono para cada tonelada de emissões de CO2.
Sob os atuais preços das EUAs, os custos resultantes do carbono são maiores para o carvão (5,8 euros por MWh); seguido pelo gás (2,6 euros), o CCS + o carvão (0,6 euros), o CCS + o gás (0,3 euros) e a energia nuclear (0 euros).
Usando os preços de cerca de 15 euros do comissário Oettinger, esses custos de carbono são praticamente dobrados.
Competitivo
No entanto, isso ainda não tornaria a energia nuclear e o CCS competitivos, especialmente depois das grandes quedas nos preços do carvão nos últimos 12 meses.
Uma análise de LCOE da Thomson Reuters que usou consultas publicadas (Parsons Brinckerhoff) estima que para os custos operacionais e capitais, os preços das EUAs teriam que aumentar a níveis politicamente inviáveis para tornar a energia nuclear ou o CCS competitivos com o carvão ou o gás.
Os preços das EUAs teriam que aumentar para cerca de 45-90 euros para fazer com que a energia nuclear competisse com o carvão e o gás, e para 70-140 euros para o CCS.
Da mesma forma, o preço das EUAs necessário para tornar o gás mais econômico do que o carvão é atualmente de cerca de 50 euros (dependendo das suposições sobre o preço do combustível e da eficiência da usina de energia), sete vezes o atual preço do carbono.
Política
A conclusão é que a energia nuclear e o CCS, e também as energias renováveis e o gás, precisam todos de outras políticas de apoio para ajudá-los a competir com o carvão.
Até que ponto a energia nuclear e o CCS estão atrás dos combustíveis fósseis é uma questão que levanta duas perguntas.
Primeiro, o dinheiro de apoio extra que os criadores de políticas (e em última análise os consumidores e os contribuintes) têm que pagar para fazer essas tecnologias funcionarem é bem gasto?
Na Grã-Bretanha, para o CCS, um apoio adicional incluirá um preço de energia (também repassado aos consumidores), uma quantia de um bilhão de libras de entrada de capital do Reino Unido e um financiamento da União Europeia de uma quantia de dois bilhões de euros.
E segundo, uma reforma limitada do mercado de carbono vale a pena? A resposta provavelmente é ‘sim’, mas a Comissão Europeia deve explicar melhor por que.