Economia Sul Pnud destaca auge do Sul global
Nações Unidas, 16/7/2012 – Em seu informe anual a ser apresentado em meados de outubro, o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) dará ênfase em um novo fenômeno econômico registrado na última década: o surgimento do Sul global. O Sul em desenvolvimento manteve uma taxa média de crescimento econômico de 4,8% nos últimos dez anos, e hoje responde por 45% do produto interno bruto mundial. Em 2010, as economias em desenvolvimento e emergentes registraram crescimento médio de 7,3%, “o que é significativamente mais do que o das economias do Norte”, disse a administradora do Pnud, Helen Clark.

Essa tendência permitiu avanços de muitos países rumo aos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM), acrescentou Helen, ex-primeira-ministra da Nova Zelândia (1999-2008), em uma reunião do Comitê de Alto Nível sobre a Cooperação Sul-Sul. Sem dúvida, o dinamismo do Sul seguirá traduzindo-se em fortes resultados em matéria de desenvolvimento, previu.
O diretor de Políticas de Desenvolvimento e Análises, no Departamento de Assuntos Econômicos e Sociais da Organização das Nações Unidas (ONU), Rob Vos, disse à IPS que a cooperação Sul-Sul é cada vez mais importante e que “se deve esperar que isto aumente ainda mais no futuro”. E destacou que a China já se converteu em um importante investidor na América Latina. O Banco de Exportações e Importações e o Banco Estatal de Desenvolvimento da China realizaram juntos mais financiamento de longo prazo para a região latino-americana do que o Banco Mundial e outras entidades multilaterais de desenvolvimento, acrescentou Vos.
Além disso, “o financiamento Sul-Sul para o desenvolvimento e a cooperação técnica com a África também está crescendo”, prosseguiu Vos. Talvez, o mais importante seja que o aumento do comércio e dos investimentos Sul-Sul ajudam certas regiões a mitigarem alguns dos efeitos adversos da desaceleração econômica nos países industrializados, completou.
Em maio o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) lançou o Mecanismo de Intercâmbio Sul-Sul, que, entre outras coisas, inclui uma iniciativa pela internet para melhorar o intercâmbio de recursos e experiências entre projetos sustentáveis. Segundo o Pnuma, os países em desenvolvimento superam as nações industrializadas em investimentos em projetos de grande escala em energias renováveis. Por outro lado, o Pnud firmou novas associações com várias economias emergentes do Sul para compartilhar conhecimentos e inovações.
Helen apontou que o Pnud se associou com o Centro de Políticas Internacionais para o Crescimento Inclusivo, com sede em Brasília, com o objetivo de facilitar os esforços para tornar conhecidas as experiências latino-americanas em subvenções e proteções sociais. Também destacou que o Pnud criou o Centro de Políticas para o Desenvolvimento de Sociedades Globais, em Seul, participou do lançamento do Centro Internacional para Redução da Pobreza, em Pequim, e colaborou com o estabelecimento do Centro para o Setor Privado no Desenvolvimento, em Istambul.
Por sua vez, a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) criou o Centro Internacional para a Cooperação Sul-Sul, na Malásia. Já a Organização Internacional do Trabalho (OIT) estabeleceu o Centro Interamericano para o Desenvolvimento do Conhecimento na Formação Profissional na América Latina e no Caribe. Ao mesmo tempo, a Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial (Unido) criou vários centros de cooperação Sul-Sul no Brasil, China, Índia e outros países de renda média.
Helen afirmou que o Pnud organizou, em 2010, na Etiópia, a Conferência África-China para a Redução da Pobreza e o Desenvolvimento, com a intenção de discutir enfoques inovadores do Sul para acelerar o crescimento de ampla base e avançar rumo aos ODM. “A experiência da China em tirar centenas de milhões de pessoas da pobreza é de considerável interesse”, ressaltou. Helen também destacou que a Unidade Especial para a Cooperação Sul-Sul do Pnud foi criada como plataforma para documentar e expor iniciativas de sucesso em países em desenvolvimento. “Em seu papel como facilitadora e coordenadora da cooperação Sul-Sul, a Unidade Especial continua facilitando o intercâmbio de experiências e as boas práticas”, pontuou.
Vos disse à IPS que tudo isto, “sem dúvida, mudará a geografia econômica” mundial. Porém, na África, a maior parte do comércio e dos investimentos Sul-Sul parece perpetuar velhos padrões, alertou. As exportações africanas consistem principalmente em matérias-primas, enquanto suas importações continuam sendo de produtos manufaturados. Além disso, os investimentos diretos da China são fundamentalmente em indústrias extrativistas.
De todo modo, Vos destacou que existe um importante apoio de China, Brasil e Índia no desenvolvimento de infraestrutura e na cooperação técnica para a agricultura, a medicina e a educação na África. “O segredo para as nações africanas é aproveitar esse apoio e promover maior diversificação de suas economias, adaptar o conhecimento e as novas tecnologias às necessidades locais e melhorar os sistemas de saúde e educação”, ressaltou Vos. Desta forma, “a nova geografia será um benefício, não um pesadelo”, opinou. Envolverde/IPS
Fonte: Envolverde