Empresas não reportam emissões corretamente


Jéssica Lipinski, do Instituto CarbonoBrasil
Atualmente, é cada vez mais comum que firmas dos mais variados setores façam relatórios sobre sua pegada ambiental e suas emissões de carbono; seja por vontade própria ou pressão dos clientes, as empresas mostram ter cada vez mais consciência das consequências que suas ações têm para o clima.
Mas será que essa transparência em relação às práticas empresariais é verdadeira? Será que as companhias estão realmente reportando todas as suas emissões de CO2 nos documentos elaborados? Infelizmente, uma pesquisa da Environmental Investment Organisation (EIO) sugere que não, e que a maioria das firmas que faz o detalhamento de suas emissões ainda o faz de maneira incorreta e/ou incompleta.
O novo relatório, intitulado Environmental Tracking – Carbon Rankings (Acompanhamento Ambiental – Classificação de Carbono), indica que o nível de divulgação das emissões de gases do efeito estufa (GEEs) entre as 800 maiores empresas do mundo é surpreendentemente baixo.
Segundo o documento, apenas 37% delas estão reportando dados completa e corretamente, adotando princípios básicos do reporte de GEEs, e apenas 21% das firmas têm seus dados verificados externamente.
De todas elas, apenas uma – a companhia alemã de produtos químicos BASF – reporta as emissões de toda a sua cadeia de suprimentos, incluindo viagens de negócios, transporte, distribuição e investimentos, o que a colocou no primeiro lugar do ranking da EIO.
Entre as dez primeiras empresas melhor colocadas estão a canadense BCE, a singapuriana Telecom, a espanhola Telefónica, a britânica BT Group e a alemã Deutsche Telekom. Já entre as piores estão as norte-americanas Phillips 66, Edison International e First Energy e a russa Lukoil, a maioria firmas de petróleo e gás natural.
Em se tratando de países, a Itália e a Espanha dividem o primeiro lugar de nações com mais companhias que reportam completamente suas emissões, com 62%, sendo que 54% são, além disso, verificadas.
Em último lugar ficou Hong Kong, com reporte de 11% das empresas, sendo 9% verificados. O Brasil não aparece em uma posição privilegiada, estando em 16º de 22 posições, com 21% de suas companhias fazendo o reporte completo e 12% fazendo o reporte completo com verificação.
Classificando por continente, o ranking é o seguinte: 35% das firmas europeias reportam suas emissões de forma pública, completa e verificada, 16,67% o fazem de forma pública, completa e não verificada, 34,33%, de forma pública e incompleta e 14% não o fazem.
Entre as norte-americanas, 13% reportam suas emissões de forma pública, completa e verificada, 24,57% o fazem de forma pública, completa e não verificada, 22,33%, de forma pública e incompleta e 40% não o fazem.
Na região da Ásia-Pacífico, 12,33% reportam suas emissões de forma pública, completa e verificada, 14,33% o fazem de forma pública, completa e não verificada, 41,67%, de forma pública e incompleta e 31,67% não o fazem.
Por fim, no BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), 11,04% reportam suas emissões de forma pública, completa e verificada, 7,69% o fazem de forma pública, completa e não verificada, 20,4%, de forma pública e incompleta e 60,87% não o fazem.
“À medida que o mundo se desloca em direção a um modelo de baixo carbono, é extremamente importante que tenhamos acesso a uma base de dados confiável, consistente e comparável de emissões de gases do efeito estufa das maiores companhias do mundo”, colocou Sam Gill, CEO da EIO.
“Isso deve ser um alerta para as companhias. [...] Grandes quantidades de emissões não estão sendo contabilizadas. Não só isso poderia ser uma fonte imensurável de risco para as companhias, mas também significa que não estamos vendo todo o quadro em termos de emissões corporativas”, acrescentou Gill.
O documento enfatiza que, apesar de cada vez mais empresas estarem medindo e reportando seu desempenho ambiental em seus relatórios anuais, a falta de um padrão internacionalmente aceito faz com que o conteúdo desses reportes varie amplamente, o que muitas vezes mostra-se insuficiente para rastrear as reais emissões das firmas.
“Se muitas pessoas começassem a investir em índices de acompanhamento ambiental, a força coletiva do dinheiro indexado [...] poderia alterar a demanda das ações das empresas. Já que os coeficientes de ponderação dentro de um índice são ligados à posição da companhia na classificação de carbono, o preço das ações começaria a se deslocar de acordo com as emissões”, explicou o CEO da EIO.
“Pela primeira vez, seguir um curso ambientalmente prejudicial de ação seria contra os interesses da companhia e de seus acionistas”, concluiu ele.

Por favor, compartilhe!

  • Share to Facebook
  • Share to Twitter
  • Share to Google+
  • Share to Stumble Upon
  • Share to Evernote
  • Share to Blogger
  • Share to Email
  • Share to Yahoo Messenger
  • More...

Parceiros

Scroll to top