Relatório abrange sustentabilidade das relações China-América Latina


Estudo que analisa comércio e investimento chineses em mineração, agricultura e silvicultura no Chile, Brasil e Peru afirma que sustentabilidade está cada vez mais na agenda.



Embora muita atenção seja focada no investimento e comércio chineses na África, outra história está se desenvolvendo na América Latina, com a qual a China se tornará o segundo maior parceiro comercial no próximo ano, ultrapassando a União Europeia.

Um relatório publicado na última semana pelo Instituto Internacional para Meio Ambiente e Desenvolvimento diz que a sustentabilidade está cada vez mais na agenda nas relações de comércio e investimento entre essas duas regiões, e que as companhias chinesas estão mostrando sinais de aprendizado com os erros anteriores que cometeram nos investimentos internacionais.

O trabalho de discussão usa fontes de dados primários e secundários e entrevistas com interessados para avaliar o comércio e investimento chineses em mineração, agricultura e silvicultura no Chile, Brasil e Peru. O documento mostra como interações complexas entre regulamentações, demandas de interessados e investidores, preferências dos consumidores e a sociedade civil moldam a sustentabilidade dessas novas relações.

“A demanda da China por materiais – da madeira e minerais à soja, seu desejo de atingir novos mercados e sua estratégia de cooperação sul-sul e diplomacia de ‘poder brando’ estão levando a um boom no comércio e investimento que terá implicações importantes para a sustentabilidade do desenvolvimento dos recursos naturais nessa região”, declarou Emma Blackmore, principal autora do relatório.

“Para satisfazer as demandas dos investidores, consumidores e outros desenvolvedores, as empresas envolvidas nesse comércio cada vez mais aplicam padrões internacionais que visam garantir operações sustentáveis e responsáveis.”

Além disso, há novos padrões nacionais sendo desenvolvidos e implementados. Eles incluem os Guias sobre Proteção Ambiental para o Fórum de Investimentos e Cooperação da China, desenvolvido pelo Ministério do Comércio e o Ministério de Proteção Ambiental da China, assim como as orientações de ‘crédito verde’ da China, que deveriam moldar as decisões de investimento dos bancos chineses através da análise de riscos ambientais e sociais.

“As orientações de Crédito Verde da China provavelmente terão um papel crescente em moldar a natureza dos investimentos chineses tanto dentro da China quanto no exterior”, colocou Blackmore. “Mas será importante monitorar a implementação dessas orientações e seu impacto.”

Muitos dos investimentos visíveis da China na América Latina vêm de empresas estatais. Em 2012, no Brasil, elas forneceram 93% de todo o investimento chinês. E embora o Banco Industrial da China tenha assinado os Princípios do Equador – pelos quais bancos podem gerenciar questões ambientais e sociais no financiamento de projetos –, outros bancos que lideram o financiamento dos investimentos diretos no exterior não o fizeram, e o governo chinês ainda não defende os princípios. Os padrões nacionais desenvolvidos na China podem acabar sendo muito mais importantes – e tendo mais legitimidade – do que padrões ‘internacionais’ como os Princípios do Equador.

O relatório mostra como a legislação e aplicação do país de acolhimento também são importantes para determinar os padrões de desempenho das companhias chinesas e para legislar os tipos de investimentos que podem ocorrer.

O Peru, por exemplo, é mais flexível do que o Brasil nos tipos de investimentos que permite. Enquanto os investidores chineses criaram novas companhias e projetos no Peru que são totalmente propriedades chinesas, ou obtiveram a maioria das ações de companhias locais, os investidores no Brasil tiveram que se associar a companhias locais.

Como resultado, os investidores chineses no Brasil herdaram as agendas de sustentabilidade das companhias locais, que são relativamente bem desenvolvidas por causa da legislação e aplicação mais rígidas e da maior pressão externa para ser sustentável e responsável.

“Embora as companhias chinesas tenham sido muitas vezes acusadas de pior desempenho em termos de sustentabilidade do que empresas estrangeiras, evidências sobre isso estão longe de serem conclusivas”, comentou Blackmore.

“Os investidores chineses enfrentam curvas de aprendizagem íngremes no que diz respeito a práticas locais e aos contextos no qual estão operando – tanto cultural quanto regulatoriamente. Mas estão mostrando sinais de crescente reconhecimento da importância da sustentabilidade em informar decisões de investimento e em construir relações de longo prazo e na reputação da China na região. O teste chave será colocar essas boas intenções em prática.”


Traduzido por Jéssica Lipinski


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