Confira a análise de conjuntura desta
semana, elaborada pelo Prof. Dr. Cesar Sanson, da UFRN em fina sintonia com o
Instituto Humanitas Unisinos – IHU.
Conjuntura da Semana.
Leilão do campo de Libra. A maior privatização da história brasileira
A análise da Conjuntura da Semana é uma
(re)leitura das Notícias do Dia publicadas
diariamente no sítio do IHU. A análise é
elaborada, em fina sintonia com o Instituto Humanitas
Unisinos – IHU, por Cesar Sanson, professor na Universidade Federal do Rio
Grande do Norte - UFRN, parceiro do IHU na elaboração das Notícias do Dia, publicadas diariamente juntamente com
a Entrevista do Dia na página eletrônica do IHU.
Sumário:
Maior privatização da história do Brasil
Riqueza incomensurável
Por que o governo tem pressa?
Soberania e ausência de estratégia
Os chineses vêm aí
O que resta de esquerda no PT?
Conjuntura da Semana em frases. Eis a
análise:Maior privatização da história do Brasil
O leilão do campo petrolífero de Libra marcado para
essa segunda-feira, 21 de outubro 2013, já pode ser considerada a maior
privatização da história brasileira. A privatização da Vale do Rio Doce, realizada década e meia atrás,
é fichinha perto da grandiosidade dos valores e do significado que envolve
o poço de Libra.
O leilão se torna ainda mais
surpreendente por ser levado a cabo por um governo do PT que sempre criticou duramente a onda privatista
dos anos neoliberais. É preciso lembrar que à época da campanha presidencial de
2010, Dilma Rousseff negou veementemente qualquer
negociata com o pré-sal. Chegou a afirmar durante a campanha eleitoral que o
“pré-sal é o nosso passaporte para o futuro”.
Quando o martelo bater nessa
segunda-feira no Windsor Barra Hotel, na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro privatizando
Libra, um divisor de água se estabelecerá na história do PT. O PT antes de
Libra e o PT pós-Libra. O PTrepetirá o PSDB que em 06
de maio de 1997 privatizou a Vale contra a
indignação de muitos que agora legitimam a privatização de Libra.
Mesmo que governo negue o fato de que
estamos diante de uma privatização, é disso que se trata. O regime de concessão
partilhada – que condiciona a Petrobras a ser
sócia no consórcio vencedor com participação de pelo menos 30% – não esconde o
resultado final, a entrega da exploração da maior parte do petróleo brasileiro
a empresas de fora.
A justificativa é de que os recursos
serão utilizados para a área social, a pressa do governo teria aumentado após
as jornadas de junho que pedem investimentos em
saúde e educação, mas há dúvidas. Para muitos, a pressa do governo em
torrar Libra está ligada ao ajuste fiscal,
particularmente ao acerto do superávit primário.
Libra, entretanto, não é apenas significativa do ponto de vista de
valores, também é sob a perspectiva geopolítica mundial. Em tempos em que soberania
rima com energia, o mapa global do petróleo indica que essa fonte de energia
fóssil – em que pese o crescimento da exploração de gás – ainda joga papel
determinante no cenário internacional. Nesse contexto, entregar Libra e
petróleo da mais alta qualidade e de custo mais barato para extração é abrir
mão de soberania em área estratégica.
Riqueza incomensurável
O poço de Libra, na Bacia de Santos, é
extraordinário. Trata-se do maior campo da reserva do pré-sal comprovado. Como
dizem os petroleiros, basta colocar o canudinho e sugar. Pelas estimativas mais
modestas calcula-se que estão estocados ali 15 bilhões de barris de petróleo da
melhor qualidade. Para se ter uma ideia do que representa este volume de
petróleo, Libra sozinho pode representar 65% da produção atual. Heitor Scalambrini Costa,
doutor em energia e professor da Universidade Federal de Pernambuco – UFPE destaca que Libra “corresponde
a tudo que já foi extraído pela Petrobras desde a sua criação, há 60 anos,
equivalendo também a todas as reservas do México”.
A riqueza de Libra é avaliada em R$ 3
trilhões, algo que a natureza levou 130 milhões de anos para lapidar e que em
menos de trinta minutos poderá ser entregue ao capital de outros países.
Sindicatos, associações, setores
acadêmicos e movimentos sociais afirmam que é uma enorme insensatez entregar
riqueza tão grande. “Se um campo correspondente a uma Petrobras inteira não é
estratégico ao país, o que então será?”, pergunta o coordenador-geral da
Federação Única dos Petroleiros (FUP), João Antônio de Moraes.
Na opinião de Ildo Sauer,
ex-diretor executivo da Petrobras, em
entrevista exclusiva ao IHU, “nenhum país do
mundo faz o que o Brasil está fazendo: leiloar aos poucos o acesso da produção
de petróleo de campos cujo total é desconhecido”.
Segundo ele, trata-se de um equívoco
enorme entregar Libra: “Até agora, a estratégia brasileira está completamente
equivocada, e Libra é apenas a cabeça de ponte, é o início de um processo de
deterioração e de um papel subalterno que o Brasil está cumprindo nesse embate
global entre os países que detêm reservas e recursos e aqueles que querem se
apropriar deles pagando o mínimo possível. Petróleo não é pizza, não é boi, não
é um negócio qualquer”.
Sauer fala em perplexidade e apreensão com o que está
acontecendo: “Parece-me que essa decisão é baseada em problemas da
macroeconomia, das contas externas e do déficit público, que tem sofrido uma
deterioração considerável nas contas. De modo que essa proposta de pedir 15
milhões de reais de pagamento de bônus para assinatura é uma coisa que não tem
sentido, pois só piora o resultado final do leilão, na medida em que alguém
precisa, de antemão, pagar um valor tão grande”.
Na opinião de Heitor Scalambrini Costa,
“a entrega do petróleo que a ANP está
patrocinando fere o princípio da soberania popular e nacional sobre a nossa
importante riqueza natural que é o petróleo, chegando a se constituir em crime
de lesa pátria”.
Segundo ele, “o Governo Federal estará
trocando por 15 bilhões de reais (previsão de arrecadação) as
reservas fantásticas que poderiam financiar a educação, saúde e infraestrutura
no Brasil em um futuro próximo”. Scalambrini levanta
ainda suspeitas sobre o destino final dos recursos. Para o professor da UFPE, “o dinheiro arrecadado com o leilão vai para a
conta única da união, e quem sabe não será usado para pagar à eterna divida
externa ou ainda para pagar os juros da dívida interna para alguns acionistas
de bancos”?
Por que o governo tem pressa?
Tudo indica que a pressa e a
insistência do governo em leiloar Libra está relacionadas ao bônus imediato que
receberá no ato da privatização. Pelo modelo de partilha, instituído para o
pré-sal, vence o leilão quem oferecer a maior quantidade de petróleo extraído
ao governo, sendo o lance mínimo 41,5%, mais o “ingresso” de R$ 15 bilhões para
entrar no negócio. Os R$ 15 bilhões ajudariam no equilíbrio do orçamento do
último trimestre.
O governo não fala sobre isso, mas
endossa que uma das razões para a ‘privatização’ é de que a Petrobrás não reúne sozinha as condições para
bancar a empreitada, ou seja, o aporte de investimentos necessários que, entre
outros, exigirá a ampliação de plataformas refinarias, terminais, navios, etc.
Apenas em FPSOs [sigla em inglês para
plataforma flutuante de produção, armazenamento e transferência], seriam
necessárias para Libra, nas estimativas mais baixas, em torno de 25
plataformas, atualmente o país tem 34 operando. O custo de cada uma dessas
plataformas oscila entre três a quatro bilhões de dólares.
O ex-diretor-geral da ANP à época de FHC, David Zylberstajn e
o diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE),Adriano Pires pensam dessa forma. Segundo Pires, “a
impressão que se tem é que o governo está estendendo a mão para o capital
privado não por convicção, mas por pura necessidade, já que não pode explorar
essas reservas sozinho e precisa dos investimentos das empresas para reativar a
economia”, disse ele.
Em entrevista nesse final de semana, Adriano Pires, argumenta que a Petrobrás não tem capacidade hoje de assumir
sozinha os custos e riscos da exploração do pré-sal. “Melhor se apropriar de
uma parcela de uma renda petrolífera do que não ter renda nenhuma.” Segundo
ele, “ Petrobrás não tem condições de assumir a exploração sozinha. Nem
condições financeiras – porque o governo federal descapitalizou a Petrobrás –
nem condições operacionais. Estamos falando de uma das maiores reservas do
mundo. O governo precisa entender que petróleo é uma commodity. Melhor se apropriar de uma parcela de uma
renda petrolífera do que não ter renda nenhuma”.
Na análise de especialistas e
movimentos, esse argumento é frágil. Argumentam que se Libra é reserva
comprovada, correspondente a uma Petrobras, as ações
da estatal disparariam caso a empresa fosse incumbida diretamente de responder
pela exploração do campo. Com isso, ainda segundo os opositores do leilão,
teria todas as linhas de crédito à disposição para levantar os recursos dos
quais o governo afirma não dispor para conseguir “colocar o canudinho” na
bacia.
Na opinião de Ildo Sauer,
“caso a Petrobras fosse contratada para explorar o Campo de Libra, seria
possível pagar o investimento da exploração em no máximo três anos, garantindo
uma produção de petróleo por 30 anos, com uma produção um pouco superior a 1
milhão, 1,5 milhão de barris por dia, que daria um excedente proporcionalmente
menor, mas mesmo assim chegaria a algo entre 35, 40 bilhões”. Segundo ele, “o
problema financeiro é um mito que inventaram; não falta dinheiro para quem tem
reserva de petróleo certificada”.
Argumenta ainda Sauer na entrevista ao IHU: “Vamos falar a verdade. Isso é tudo jogo de cena
para criar confusão! Não falta dinheiro para quem tem reserva de petróleo e tem
capacidade tecnológica. Nenhuma empresa tem dinheiro diretamente. Quem tem
dinheiro são os bancos, o sistema financeiro e a China, que hoje detém reservas
da maior monta do mundo em função do seu processo de produção, exportação e
acumulação, que financia grande parte da dívida americana, por exemplo. Então,
não falta dinheiro no mundo”.
O argumento, porém, mais forte do
governo para privatizar Libra é que conseguirá arrecadar rapidamente recursos
para investir na área social e assim dar uma resposta concreta às jornadas de junho que sacudiram o país.
As manifestações das ruas pediram
pressa na melhoria dos serviços públicos de saúde, educação e transporte. Foi
esse o recado dado pela presidenta Dilma Rousseff no
mês passado, ao sancionar a lei que destina recursos dosroyalties do petróleo para a saúde. Disse ela:
“Isso significa R$ 112 bilhões nos próximos dez anos, e do Fundo Social só do
Campo de Libra a gente calcula algo em torno de R$ 368 bilhões nos próximos 35
anos”, destacou a presidenta. “Com essa opção que nós fazemos pela educação de qualidade,
nós vamos tornar irreversível o processo de redução das desigualdades em nosso
país”, afirmou.
Na opinião dos movimentos sociais a
pressa da presidente é um erro grave, porque dá com uma mão, mas tira muito
mais com a outra. Ganha-se no curto prazo, mas perde-se muito no longo prazo. A
decisão seria ainda mais equivocada sob a perspectiva estratégica quando o país
sequer sabe ainda o tamanho de suas reservas. Segundo Sauer,
“é um absurdo que um país, sem saber quanto tem de petróleo, coloque em leilão
um campo com essa gigantesca dimensão de petróleo”.
Na avaliação de Francisco José de
Oliveira, diretor da Federação Única dos Petroleiros (FUP), os recursos prometidas pelo governo com o leilão
“são uma gorjeta”. Segundo ele, “é um absurdo vender isso. O governo afirma que
vai investir em educação e saúde, e que vai arrecadar R$ 15 bilhões com o
leilão. Mas isso é uma gorjeta perto da riqueza que existe no campo. A
sociedade não participou do debate sobre o tema”.
A conclusão é de que se entregando
Libra a terceiros o governo já arrecadará muito, explorando sozinho poderia arrecadar
muito mais, na ordem de 70% a mais. Portanto, os recursos para a área social
seriam infinitamente maiores. Na opinião dos movimentos a pressa além da míope
é ainda inimiga da soberania.
Soberania e ausência de estratégia
A interpretação dos movimentos sociais
é de que ao invés de buscar o caminho de fortalecimento da Petrobras e da consolidação de um setor nacional
numa área estratégica como a energética, o governo opta em abrir flancos para a
exploração do capital multinacional que nada deixa por aqui, uma vez que remete
os seus ganhos para o exterior.
A questão da soberania é abordada por Ildo Sauer na
entrevista ao IHU. Segundo ele, “até 1960, grande
parte dos recursos de petróleo do mundo estava na mão das companhias de
petróleo multinacionais, comandadas pelas conhecidas sete irmãs: 84% do petróleo
estavam na mão delas; 14%, da União Soviética; e 2%, das empresas nacionais. Em
1960 foi criada a Organização dos Países Exportadores de Petróleo - OPEP, que fez duas tentativas e transferiu o excedente
econômico que ia para as empresas em direção aos países que detinham as
reservas. Hoje, no mundo, mais de 90% das reservas de petróleo conhecidas estão
em mãos de Estados nacionais, que têm ou empresas 100% estatais, ou empresas
híbridas, como é o caso da Petrobras”.
O Brasil, diz ele, “não sabe se tem 50
bilhões, 100 bilhões ou 300 bilhões de barris. Se o país tiver 100 bilhões,
estará no grupo de países de grandes reservas, se tiver 300 bilhões, será o dono
da maior reserva do mundo, porque 264 bilhões é o volume de barris da Arábia
Saudita. A Venezuela passa disso, se formos considerar o petróleo ultrapesado.
De petróleo convencional normal, a Venezuela se encontra no patamar de 80 a 120
bilhões de barris, onde se encontra a Líbia, o Iraque, o Irã, os Emirados
Árabes, que são os países do segundo bloco”.
Para Sauer, como
destacado anteriormente, “Libra é apenas a cabeça de ponte, é o início de um
processo de deterioração e de um papel subalterno que o Brasil está cumprindo
nesse embate global entre os países que detêm reservas e recursos e aqueles que
querem se apropriar deles pagando o mínimo possível. Petróleo não é pizza, não
é boi, não é um negócio qualquer”.
Para ele, “o governo brasileiro parece
não entender a dimensão do problema, ou, por ingenuidade, por incompetência,
está cometendo algo que chamo de crime de responsabilidade contra o interesse
nacional ao iniciar o processo de leilão; ou seja, a maior privatização da
história do país, muito superior a todas as privatarias dos governos
anteriores, em um lance só”.
Há ainda outro aspecto relacionado ao
tema da soberania. A geração e distribuição de riqueza na forma de empregos.
Com a privatização de Libra, empregos deixarão de ser gerados. Segundo o coordenador-geral
da Federação Única dos Petroleiros (FUP), João Antônio de Moraes, “o
petróleo deve ser entendido como riqueza, como alavanca do desenvolvimento,
gerador de empregos nas plataformas, refinarias, terminais, na fabricação de
navios e de derivados. Não podemos permitir sua exploração como foi a de outros
recursos naturais, como o pau-brasil e o ouro, e o ferro, hoje”, diz ele.
Essas empresas, além de exportar tudo o
que produzem, não geram empregos aqui, nem movimentam a indústria nacional,
como faz a Petrobras, destaca a FUP. Segundo o Sindicato Nacional da
Indústria da Construção e Reparação Naval e Offshore (Sinaval), dos 62 navios feitos pela indústria de
petróleo, 59 são da Petrobras e três da PDVSA (estatal
venezuelana). Ou seja, nenhuma petrolífera privada encomendou navios no Brasil.
Além disso, diz a FUP, “a privatização do petróleo é quase um sinônimo
para a terceirização do trabalho, já que empresas como Statoil, Shell, OGX, Chevron, entre tantas outras
que abocanharam jazidas de petróleo ao longo dos 11 leilões realizados desde o
governo FHC, quando foi quebrado o monopólio estatal da Petrobras, não contratam trabalhadores próprios e,
ainda praticam absurdos, como a falta de treinamento necessário para que estes
trabalhadores exerçam suas atividades nas plataformas e, em outras unidades
operacionais, de forma digna e segura”.
A FUP cita como exemplo
de precarização do trabalho a OGX: “Os leilões de
petróleo estão rebaixando as condições de trabalho no Brasil. Na OGX, por exemplo, dos 6.500 trabalhadores contratados,
6.200 são terceirizados. Os 300 que são próprios só atuam praticamente em áreas
administrativas”.
Em entrevista ao IHU, o conselheiro do Clube de Engenharia do Rio de
Janeiro, Paulo Metri afirma:
“entregar 70% da reserva conhecida deste campo a empresas estrangeiras, que
sempre exportarão suas produções sem adicionar valor algum, nunca contribuirão
para o abastecimento do país, dificilmente contratarão plataformas no Brasil, o
item de maior peso nos investimentos, não gerarão muitos empregos aqui, não
pagarão impostos, graças à lei Kandir, e só pagarão os royalties e uma parcela
combinada do lucro é o exemplo máximo da desfaçatez”.
Os chineses vêm aí
Quem está de olho em Libra são os
chineses. Eles se apresentaram em peso para o leilão. A China, locomotiva do
crescimento mundial é insaciável na busca por energia para atender os padrões
do seu crescimento.
11 empresas vão disputar o leilão
organizado pela Agência Nacional do Petróleo (ANP): as
chinesas Cnooc International Limited e China National Petroleum Corporation (CNPC), a colombiana Ecopetrol, a
japonesa Mitsui & CO, a indiana ONGC Videsh, a portuguesa Petrogal, a
malaia Petronas, a hispano-chinesa Repsol/Sinopec, a anglo-holandesa Shell e a francesa Total,
além da própria Petrobras. As gigantes
norte-americanas Chevron e Exxon – as maiores do mundo – e as
britânicas BP e BG desistiram da concorrência.
A China disputa com os Estados Unidos a
posição de maior importador de petróleo do mundo. Com pouca viabilidade para
explorar as reservas que possui em seu território, o país tende a estar ainda
mais presente nos países com os maiores potenciais de produção.
A participação das estatais chinesas na disputa pelo campo de Libra,
no pré-sal de Santos, é prova do apetite gigante dos chineses pelo setor
energético brasileiro. A presença maciça na competição por um contrato no
pré-sal também demonstra que ainda há espaço para a chegada de mais
investimento no país, mesmo após as estatais chinesas já terem investido US$
18,3 bilhões nos setores de petróleo e energia do Brasil entre 2005 e 2012,
segundo dados da Agência Internacional de Energia (AIE).
Ao partilharem da produção de Libra,
caso alguma delas participe do consórcio vencedor, será diferente. A China terá
acesso direto a uma parte do petróleo produzido no maior campo descoberto na área
até agora e provavelmente acesso a tecnologia da Petrobras – embora isso não esteja claro.
Na opinião de Alexandre Szklo,
especialista em planejamento energético e doutor pela Coppe-UFRJ a participação de petroleiras asiáticas
no leilão do campo de Libra deve demandar atenção da parte do governo
brasileiro. Segundo ele estamos diante de uma espécie de “jogo de xadrez”, em
que, de um lado, as petroleiras asiáticas têm a capacidade financeira
necessária para investir, e, do outro, o Brasil tem o conhecimento tecnológico
e o recurso energético. ParaAlexandre Szklo, o
Brasil tem que “dormir com o inimigo, mas de olho aberto”. Entre as
“armadilhas” a serem evitadas estão apressar a produção e ficar à mercê da
indústria chinesa, e perder o know-how tecnológico.
“A questão é como ter acesso a esse
dinheiro, sem transferir conhecimento, sem a perda do domínio do recurso”,
afirmou o pesquisador, que colaborou com a Agência Internacional de Energia (AIE) em um recente estudo sobre investimentos e
transferência de tecnologia entre o Brasil e a China. “A Petrobras é muito
ciosa disso também, corretamente eu diria. As empresas chinesas estão muito
agressivas nessa questão de aquisição de tecnologia. A primeira plataforma
semisubmersível na China só foi lançada no fim de 2011. As chinesas ainda estão
lutando por dois objetivos: ter petróleo e adquirir capacitação tecnológica”.
Chama a atenção, entretanto, a ausência
no leilão das gigantes americanas e britânicas na disputa. SegundoAdriano Pires,
diretor do Centro Brasileiro de Infra Estrutura (CBIE), se “Libra é a
joia da coroa, como o governo afirma e eu concordo, faz todo o sentido as
grandes petroleiras privadas ou públicas estarem aqui. O sucesso de um leilão
se mede pela concorrência. Com uma joia da coroa desse tamanho, o governo só
atraiu 11 empresas, sendo a maioria delas estatais. É preciso fazer uma
reflexão sobre isso”, afirma ele.
O que resta de esquerda no PT?
Surpreendente nessa história toda é que
seja o PT quem comanda a maior privatização da história
brasileira. Comenta Ildo Sauer:
“O governo do PT, que foi eleito se contrapondo
às privatizações e à privataria anterior, está agora promovendo o maior leilão
da história”.
Quando bater o martelo nessa
segunda-feira no hotel Windsor Barra Hotel, na Barra da Tijuca, no Rio de
Janeiro privatizando Libra, um divisor de água se estabelecerá na história do
partido. O PT antes de Libra e o PT pós-Libra. OPT repetirá
o PSDB que em 06 de maio de 1997 privatizou a Vale contra a indignação de muitos que agora
legitimam a privatização de Libra.
Ficará daqui para frente mais difícil
para o PT carimbar a pecha de privatistas apenas noutras
forças políticas. Passará o partido ao clube dos privatistas. Com Libra,
o PT entra no grupo das forças políticas que aderem
cada vez mais aos princípios liberais de organização do mercado. O partido abre
mão de pensar estrategicamente e opta pela imediatez, apequena-se em seu papel
de formulador de um projeto nacional que pense o país no longo prazo.
Depois do desmedido aliancismo, depois da flexibilização do Código Florestal, depois da destruição da política de demarcação de terras indígenas,
depois do esvaziamento da Reforma Agrária, agora a privatização
de Libra. Fica a pergunta: O que resta de esquerda
no PT?
Conjuntura da Semana em frases
Seleção de frases extraídas das “Frases
do dia” publicadas diariamente no sítio do IHU. Frases
publicadas entre os dias 08 a 19 de outubro de 2013:
Exausta
“José Mariano Beltrame, secretário de
Segurança do Rio de Janeiro, contou ter dito ao ministro da Justiça, José
Eduardo Cardozo, que a polícia do Rio não teria a menor condição de assumir o
policiamento das manifestações previstas para o dia do primeiro leilão do
pré-sal, na segunda-feira. Motivo? A PM está exausta, alegou o secretário,
passados mais de cem dias de protestos nas ruas” – Letícia Sander,
jornalista – Folha de S. Paulo, 19-10-2013.
Epicentro
“Se o Rio já parece ter virado um dos
principais epicentros da indignação nacional, os próximos eventos no calendário
indicam que o ano de 2014 pode ficar bem pior” – Letícia Sander, jornalista – Folha de S. Paulo, 19-10-2013.
\Barril de pólvora
“O governo se faz surdo aos clamores.
Os cinta larga não existem, resistem. Se o governo do Brasil não tomar vergonha
na cara, não tardará e o barril de pólvora explodirá de novo e muitos morrerão”
- Reginaldo Trindade, procurador da República em
Rondônia – Folha de S. Paulo, 19-10-2013.
Dilma e FHC
“Dilma decidiu copiar FHC. Além de
privatizar o petróleo, agora chama o Exército contra os petroleiros, como o
tucano fez em 1995″ - Zé Maria, presidente
nacional do PSTU, sobre o reforço de segurança convocado pela presidente para
garantir o leilão de Libra, na segunda-feira - Folha de
S. Paulo, 19-10-2013.
Bicho sabido
“Eu tinha uma frustração na vida, tinha
vontade de ser economista. Economista sabe tudo quando está na oposição. Agora
estou ouvindo até uma candidata falar em tripé: temos que consertar o tripé’.
Acho fantástico como economista é bicho sabido” – Lula, ex-presidente da República – Folha de S. Paulo, 19-10-2013.
Ah, tá!
“O ministro Aldo Rebelo decidiu abrir
mão de sua candidatura ao governo de São Paulo, atendendo a pedido da
presidente Dilma para que continuasse à frente do Ministério do Esporte. Isso
quer dizer o seguinte: Nada, absolutamente nada!” - Tutty Vasques, humorista - O Estado de S. Paulo, 19-10-2013.
Meses contados
“Se o governo de Maduro e Cabello não
tomar medidas inteligentes e drásticas imediatamente, na economia e na
política, tem os meses contados. Não passará de março ou abril de 2014” - Heinz Dieterich, o intelectual mexicano-alemão criador
do “socialismo do século XXI” - O Globo, 17-10-2013.
Kitsch teológico
“O kitsch teológico, implorando pela
proteção de São Francisco de Assis; o palavrório bolivariano; e as quimeras
burocráticas socialistas” – Heinz Dieterich, o intelectual mexicano-alemão
criador do “socialismo do século XXI” - O Globo, 17-10-2013.
Vidraça
“Todo mundo sabe que a Copa não é para
todo mundo, e sim um programa elitista, com ingressos caríssimos, como em
qualquer lugar. Entretanto é difícil não imaginar o caldo que, em ano
eleitoral, isso tudo irá produzir por aqui. A Copa coloca o país não só na
vitrine, mas também na vidraça do mundo. E que vidraça!” – Letícia Sander, jornalista –Folha de
S. Paulo, 16-10-2013.
Briga de muié!
E a Dilma e a Marina batendo boca?
Parecem aquelas vizinhas que ficam batendo boca no muro: “Sua porca”. “Melhor
porca que corna.” “Seu marido não vale nada.” Briga de muié! Vai dar jacaré!
Muié com muié dá jacaré! “Hoje! Luta no gel! Hipopótamo x Ema!”" -José Simão, humorista - Folha de S. Paulo, 16-10-2013.
Estado x Black Blocs
“Ora, se o Estado, ele próprio, sai da
lei por meio de legislação ilegítima e, ainda por cima, bate em professor, qual
razão teriam os ‘black blocs’ para não reaparecer? Nenhuma! Eles se sentiram no
dever de voltar – e voltaram” - Paulo Ghiraldelli,
filósofo – Folha de S.Paulo, 11-10-2013.
“Um Estado violento não gera paz, gera
violência. Quanto mais ele revela a sua face ‘pega Amarildo’, mais os ‘black
blocs’ ganham legitimidade” - Paulo Ghiraldelli, filósofo
– Folha de S.Paulo, 11-10-2013.
Novo JK
“Um novo Juscelino Kubitschek para o
Nordeste” - Wilson Nunes Martins, governador do
Piauí pelo PST sobre Eduardo Campos - Folha de S.Paulo,
11-10-2013.
Tiroteio
“Quem mais ganha com a aliança com
Marina é o próprio Eduardo: ele vai achar uma saída honrosa para não ser candidato”
– Cid Gomes, governador do Ceará – Folha de S.Paulo, 11-10-2013.
Hoje
“No quadro de hoje, Campos tem um
partido, e Marina, os votos; Aécio tem a pré-candidatura, mas Serra, o ‘recall’
de 2010; Dilma está em campanha aberta, mas Lula é o único, entre todos os
candidatos, capaz de vencer no primeiro turno” – Eliane Cantanhêde, jornalista – Folha de S.Paulo, 11-10-2013.
Cabeça de chapa
“Não tem isso de discutir lá na frente
posição na chapa. A candidatura posta é a de Eduardo e ela vai até o dia da
eleição. A cabeça de chapa se chama Eduardo Henrique Accioly Campos e esse será
o nome na urna no dia da eleição” – Carlos Siqueira ,
secretário-geral do PSB – Folha de S.Paulo,
10-10-2013.
Protagonista
“Na prática, o governador pernambucano
foi um agente passivo nessa história toda. Se alguém anteviu alguma coisa, foi
Marina. A ex-senadora criou o principal fato político desde a eleição de Dilma
e ainda jogou sobre Campos a responsabilidade de crescer nas pesquisas em pouco
tempo, ao deixar claro que, se o governador não se viabilizar, ela pode
concorrer” – Rogério Gentile,
jornalista – Folha de S.Paulo,
10-10-2013.
Vice
“Não sei se a chapa é competitiva. Ela
(Marina) acrescenta para ele (Campos), mas se você for pensar, se ela for vice,
no Brasil ninguém vota por causa do vice” – Paulo Bernardo,
ministro das Comunicações – O Estado de S.Paulo,
10-10-2013.
Atropelado
“É espantoso alguém querer pleitear a
Presidência e ter essa visão tão excludente do setor, nacionalmente o maior
pilar da economia. Como vou conviver com uma chapa de candidato a presidente
que é preconceituosa com o setor primário [agronegócio]? Eu sempre fui muito
coerente, mas nunca intolerante” – Ronaldo Caiado,
deputado federal pelo DEM-GO – Folha de S.Paulo,
10-10-2013.
“Eu botei o pé na calçada, e um carro a
300 Km/h me atropela. Não deu nem para ver [a placa]” – Ronaldo Caiado, deputado federal pelo DEM-GO – Folha de S.Paulo, 10-10-2013.
Gestora
“Dilma é uma gestora, ela tem mais
ação: Nós tivemos a votação do Código Florestal. Tentamos durante oito anos do
governo Lula. Não foi possível. Mas no governo da presidente Dilma, nos
primeiros dois anos, nós conseguimos votar” – Kátia Abreu,
senadora pelo PMDB-TO – Folha de S.Paulo,
09-10-2013.
Velho
“Nossa proposta era a de fazer da
política uma nova política. E o PSB não tem métodos menos velhos que os outros
partidos” – Luciano Zica, ex-deputado federal,
articulador da Rede em São Paulo, ao abandonar o projeto – Folha de S. Paulo, 09-10-2013.
Desafio
“O desafio de Campos e Marina é unir o
sonho da Rede Sustentabilidade ao pragmatismo e à bandeira da eficiência dos
apoiadores de Campos. Ou os votos dos sonháticos urbanos, indigenistas e
ambientalistas aos de pragmáticos como Jorge Bornhausen, criador do PFL e do
DEM, e Ronaldo Caiado, líder ruralista” – Eliane Cantanhêde,
jornalista – Folha de S.Paulo, 08-10-2013.
Efeito Marina
“De todos os personagens da sucessão,
só um foi prejudicado em todos os sentidos: o tucano Aécio Neves” –Fernando Rodrigues, jornalista – Folha de S.Paulo, 08-10-2013.
Política tá assim
“Achei uma incoerência a Marina falar
‘vamos sepultar a Velha República’ e se filiar a um partido que filiou o
Heráclito Fortes e o Bornhausen, do DEM! Deu Em Merda! Partido Socialista
Brasileiro filia qualquer um, contanto que não seja socialista!” – José Simão, humorista - Folha de
S.Paulo, 08-10-2013.
“E a política tá assim: o PT se junta
com o Maluf e o Sarney. A Marina se filia ao PSB, que filia o povo do DEM. E o
PSDB parece um antiquário” – José Simão,
humorista - Folha de S.Paulo, 08-10-2013.
FONTE: HTTP://WWW.IHU.UNISINOS.BR/NOTICIAS/524841-CONJUNTURA-DA-SEMANA-LEILAO-DE-LIBRA-A-MAIOR-PRIVATIZACAO-DA-HISTORIA-BRASILEIRA EM
20/10/2013 ÀS 20:44P.M. – BOM FIM – PORTO ALEGRE – RS – BRASIL
Fonte: http://caminhosdorei.wordpress.com/2013/10/21/hoje-segunda-feira-sera-a-maior-privatizacao-da-historia-brasileira/