Cofundador da ONG Water.org, o ator quer que as três filhas e a enteada sejam cidadãs engajadas e, por isso, faz questão de mostrar a realidade como ela é.
Los Angeles – Matt Damon tem uma habilidade rara de se confundir com o papel que interpreta. Não importa se é o golpista de Onze Homens e um Segredo(2001), o agente secreto desmemoriado de Identidade Bourne (2002) e suas sequências ou o mentiroso compulsivo deO Desinformante! (2009), você nunca pensa: "Olha lá o Matt Damon fazendo bem tal personagem". Ele simplesmente é a pessoa. Acontece o mesmo em Elysium, ficção científica de Neill Blomkamp que tem estreia prevista para este mês no Brasil e traz também no elenco os brasileiros Alice Braga e Wagner Moura. De imediato, o espectador se convence de que ele é o ex-prisioneiro obrigado a trabalhar como operário em uma fábrica e a viver na grande favela em que se transformou Los Angeles. Os ricos foram embora da Terra para o satélite artificial Elysium. Por aqui, só restaram pobres e miseráveis.
Ao encontrar o ator de 42 anos em uma suíte do luxuoso hotel Four Seasons, em Beverly Hills, dá para entender um pouco por que tanta facilidade: ele é vários em um. Damon tem, por exemplo, cara e conta bancária de astro - somados, seus trabalhos no cinema renderam mais de 2,5 bilhões de dólares.
Metido em jeans, camiseta e moletom com capuz, porém, vira um americano comum e age com tamanha naturalidade que faz qualquer um se sentir instantaneamente à vontade. Fica óbvio por que ele se tornou amigo íntimo de pesos-pesados de Hollywood, como George Clooney, Brad Pitt e Ben Affleck, com quem forma uma dupla inseparável desde a infância, quando foram vizinhos na região de Boston. Já adultos, escreveram juntos o roteiro de Gênio Indomável, que levou o Oscar da categoria em 1998.
Damon foi morar a dois quarteirões de Affleck quando a mãe, separada e vinda da pequena Newton, voltou para a terra natal do ator, Cambridge, pertinho de Boston. O garoto estava com 10 anos e eles se instalaram em uma casa meio hippie com outras famílias. Foi nessa época que ele tomou contato com as desigualdades, tema central de Elysium.
"Quando me mudei para a cidade grande, morava em um bairro de classe média, mas com disparidades. Do outro lado da rua, havia uma pensão. Eu tinha amigos lá e via que eles não possuíam o mesmo que outros", conta. Na adolescência, a mãe o levou a países como México e Guatemala. "Viajávamos de ônibus e pude ver adivisão social. Eu era bem jovem." Nessa época, ele aprendeu espanhol, que hoje fala fluentemente.
Não por acaso, como ator, Damon prefere projetos que tenham algo a dizer, comoElysium ou Promised Land, sobre um método de extração de gás natural que contamina o solo, cujo roteiro ele escreveu com John Krasinski. Fora da tela, também se mostra engajado: é cofundador da ONG Water.org, que leva água potável para comunidades desassistidas e já beneficiou 1 milhão de pessoas. Em casa, reproduz um pouco do que viveu na infância, fazendo questão de apresentar realidades diferentes às filhas, Stella, 2 anos, Gia, 5, e Isabella, 7, e à enteada, Alexia, 15 - fruto de um relacionamento anterior de sua mulher, a argentina Luciana Barroso.