Responsabilidade social deve começar "no quintal" das empresas, defende Bob McKinnon

"As empresas precisam concentrar suas ações de responsabilidade corporativa em casa". É isso que defende Bob McKinnon, articulista do Huffington Post e fundador da Galewill, uma empresa especializada em empreendedorismo social. Em artigo para o site da revista Fast Company, ele traz à tona o seguinte questionamento: o que dizer de uma companhia que doa milhões de dólares, mas não faz nada para corrigir os problemas de seus próprios escritórios? Como pode dizer: em nosso quintal, não?".

O especialista lembra que, em 1914, Henry Ford chocou o mundo dos negócios ao anunciar que aumentaria o salário das diárias de seus empregados na linha de produção em US$ 5 por dia. Ao mesmo tempo, iria reduzir a jornada de trabalho a oito horas, o que permitiu-lhe adicionar um terceiro turno no processo.
Ford justificou, à época, que era de seu interesse que seus empregados pudessem comprar os carros que faziam. "Independentemente da motivação, era difícil argumentar com os resultados. Trabalhadores produziam mais e viviam melhor. Ford e sua cidade natal, Detroit, prosperavam", relata McKinnon.

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Henry Ford: visão empreendedora e pioneirismo



"Talvez sim, talvez não. Mas estas são organizações competentes e com pessoas incrivelmente talentosas que se esforçam para fazer a diferença. E com certeza seria emocionante assisti-la”
Bob McKinnon, especialista em empreendedorismo

Um século depois, enquanto a Ford projeta ter um dos melhores anos de sua história, Detroit se dirige para um de seus piores. "Isso não quer dizer que a Ford é responsável pela ascensão e queda de Detroit, mas o que costumava ser uma relação simbiótica entre uma empresa e sua cidade natal não é mais", observa o articulista.

Para McKinnon, em tempos nos quais os programas de responsabilidade social estão cada vez mais sofisticados, é preciso questionar como essa prática ocorre no próprio quintal das empresas e como tal medida pode impactar nos negócios. "Cada vez mais vemos dicotomias aparecendo em cidades como Detroit, onde à sombra da grande sede as cidades estão cada vez mais deixados ao breu."

Exemplos práticos
Em Cincinnati, a Procter & Gamble emprega milhares de pessoas, apoia eventos da comunidade e tem uma plataforma ativa que está salvando milhões de vidas nos países em desenvolvimento por meio de seus extraordinários esforços para fornecer água potável, pontua o especialista. "No entanto, em seu próprio quintal, 50% das crianças de Cincinnati estão vivendo na pobreza", aponta.

"No Vale do Silício, empresas como a Apple e o Facebook criam não só empregos, mas indústrias inteiras para que os outros também prosperem. Não há dúvida de que isso tem estimulado incríveis atos de filantropia, incluindo a famosa doação de Mark Zuckerberg de US$ 100 milhões para ajudar escolas. Entretanto, em East Palo Alto (Califórnia), a taxa de evasão escolar é de 65%", ressalta McKinnon.

Para ele, sobram motivos para que o abismo entre empresa e comunidade cresça. Em uma economia global, a ideia de uma "cidade-empresa" parece antiquada. Quando as empresas têm partes interessadas em todo o mundo, elas tentam maximizar os impactos de diferentes formas que, logicamente, irão levá-las para além de suas sedes.

Estratégia de quintal
bob mckinnon defende que rse come� em casaMesmo no mundo da responsabilidade social empresarial (RSE), há uma tendência para se ver as 'relações comunitárias' como apenas ações de voluntariado dos funcionários. São iniciativas vistas como menos valiosas, estrategicamente, aos negócios das corporações. Claramente, há empresas que estão fazendo investimentos significativos em seus próprios quintais, ou que estabelecem bases que servem para fazer um trabalho muito importante lá. Vidas individuais estão sendo melhoradas, mas não o suficiente", ressalta o especialista.


Segundo McKinnon, estamos diante de um novo tipo de mentalidade corporativa. "A pobreza infantil? Não no meu quintal. Altas taxas de abandono? Não no meu quintal. Nossa cidade vai à falência? Não no meu quintal", critica. Em seguida, ele pergunta: há mais oportunidades para exemplos como o de Ford em 1914? Ou será que estamos destinados a ver nossas empresas fazerem grandes coisas para o mundo, mas não para os seus vizinhos?

"E se mais empresas desenvolveram uma estratégia de quintal, que resultaria em um círculo virtuoso de forma semelhante ao que Ford criou em 1914? Poderia a P&G acabar com a pobreza infantil em Cincinnati? Ou Facebook e Apple elevarem as taxas de graduação em East Palo Alto? Poderia a Ford salvar Detroit?", provoca.

"Talvez sim, talvez não. Mas estas são organizações competentes e com pessoas incrivelmente talentosas que se esforçam para fazer a diferença. E com certeza seria emocionante assisti-la", conclui Bob McKinnon.
Fonte: EcoD

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