Eles circulam por aí. Mochilas nas costas,
força nos pés, amor nas mãos. Vão onde os chamarem, pé na estrada, e um brilho
nos olhos de quem sabe que é com passos pequenos que se chega a um mundo sempre
melhor. E eles sabem que essa “vida é boa demais!
São os LowConstrutores
Descalzos, um grupo de jovens que compõe
uma “caravana” ambulante de troca de conhecimentos e vivências sustentáveis,
principalmente no campo da Permacultura e da BioConstrução. O grupo formou-se
em 2012, ministram cursos com a mão na massa: aprender fazendo, ensinar
aprendendo. Conheceram-se no TIBÁ (Instituto de Tecnologia Intuitiva e
BioArquitetura), onde viveram durante um período e de lá iniciaram a viagem em
busca do sonho de cada um, do sonho comum de todos e de quem se cruza no
caminho de ter um futuro mais sustentável, mas principalmente, de viver o
presente de cada momento sempre mais feliz. Cada um vem com uma historia
diferente, diversas formações acadêmicas, várias experiências profissionais,
várias origens – do Brasil e do mundo – mas todos unidos pelo momento comum de
construir realidades com as próprias mãos, de misturar o barro com os próprios
pés, e de seguir passando a palavra.
Em Nova Friburgo, num curso de
BioConstrução que durou dois dias no Instituto Pindorama, reconstruímos parte
de uma casa centenária, feita com técnica de pau a pique. Construímos um banco
de hiperadobe, fizemos tintas naturais, pintamos juntos.
Reencontrámo-nos em
Itapecerica da Serra, no Instituto Arapoty, onde fizemos juntamente com o
Espaço Naturalmente, de Porto Alegre, a construção de uma Oca com estrutura de
bambu, paredes de pau a pique e cobertura de palha piaçava, misturando tradição
indígena e BioArquitetura. A simplicidade indígena, o respeito pela natureza
foi assimilada e aplicada durante toda a construção, com o apoio e sabedoria
imensa de Kaká Werá, com o encontro com Marcelo Rosenbaum, com a contação de
histórias em torno do fogo na Oca sagrada. Mas a proposta não fica por
aqui.
Tetos verdes, Permacultura – ou
“cultura permanente” – , tratamento de águas cinzas e negras, agro floresta. A
proposta é de autonomia, de desapego, de independência. De poder produzir nosso
alimento, construir nossas casas, alimentar nossos filhos, proteger nosso
lugar, melhorar nossas cidades – porque não?
Neste tempo de incerteza
mundial, de escassez de recursos, a verdade vem Low, vem Slow, vem nos passos pequenos de quem anda em frente. Baixo custo,
alto rendimento. A proposta é entender o lugar, os recursos existentes e criar
partindo da realidade. É construir em comunidade, e cada curso vem resultando
num mutirão, com resultados para todos, deixando legados por onde passam. Em
cada curso aparecem pessoas com diversos interesses que levam consigo um legado
do que vivenciam durante os encontros.
Com a sua característica nômade
de construir e seguir caminhando, chegam muito longe, desapegados de enraizarem
num lugar especifico, vão enraizando lugares por onde passam. Esse movimento,
essa flexibilidade permite-os continuar aprendendo, cruzando com quem se vai
mobilizando pelo país em favor de uma visão sustentável da construção e do
entendimento de que a escassez de recursos existe principalmente enquanto
bloqueio de cada um de nós, humanos, de produzir e criar o que necessitamos
para viver. Esse aprendizado através da BioConstrução e da Permacultura vem
ganhando cada vez mais atenção tanto pela comunidade acadêmica e científica
quanto pelo caminho mais espiritual do encontro com a imensidão da
potencialidade humana.
Os LowConstrutores existem entre isso, um pé apontando em cada direção,
caminhando entre elas.
As
técnicas de BioConstrução vêm sendo exploradas, recuperadas (lembremos que mais
de 1/3 da população mundial vive ou trabalha em casas de terra),
re-significadas simbolicamente enquanto legado patrimonial e cultural. Em 2007
UNESCO fundou o WHEAP (World Heritage Programme on Earthen Architecture), um
programa que foca na conservação e gestão de patrimônio construído com terra em
todo o mundo. A sua 3ª fase, iniciada com o evendo Terra 2012, centra-se em
casos na America Latina e Ásia Central. As atenções estão voltadas para o
entendimento internacional do tema e suas potencialidades, e o momento é agora.
As características de baixo impacto ambiental e econômico são
fundamentais para que se pense questões tanto de mitigação quanto de adaptação
à mudança climática, através do uso de técnicas culturalmente integradas,
ambientalmente responsáveis, e
economicamente acessíveis nos países menos desenvolvidos. O
desafio da mudança climática vem andando sempre junto com os desafios de
reconstrução pós desastres naturais e de construção resiliente e também aí a
BioConstrução e a Permacultura têm um papel importante: a auto construção, a
tradição comunitária deve ser envolvida no processo de construção, ao
mesmo tempo que individualmente, se podem garantir técnicas que respondem às
necessidades de água limpa, saneamento ecológico e produção própria de alimento
a custo praticamente nulo.
A caravana segue pela estrada.
A palavra segue sendo plantada. As mãos sujas de barro, os pés calejados de
terra, contam histórias que não se reproduzem aqui. E o mundo que vai seguindo
veloz, confuso, entende passinho por passinho que o caminho é Low, é Slow, pé no chão, olhos em frente, a construir com a realidade, para a
realidade ser todos os dias boa demais.”
* Texto da arquiteta Mônica
Guerra, mais uma guerreira sem armas que nos acompanha e nos inspira. Gratidão
por capturar e transmitir tão verdadeiramente nossa essência! Link do artigo
original aqui.
Acesse a página oficial de Lowconstrutores
Fonte: ecoeficientes