Jogar papel higiênico no vaso sanitário em diversos países
do mundo é uma prática comum. No Brasil, o assunto é um pouco mais delicado,
pois o sistema de saneamento é garantido para um pouco mais da metade dos
brasileiros. Segundo o Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS),
cerca de 56% da população conta com o atendimento de redes coletoras de
esgotos.
O químico industrial da Companhia de Saneamento do Paraná
(Sanepar), Gilmar Javoski Gomes da Cruz, diz que nas grandes cidades,
principalmente no sudeste e no sul do país, a realidade é um pouco melhor. “Em
Curitiba, aproximadamente 86% é tratado”, explica.
A falta de garantia de esgoto para boa parte da população,
junto a outros aspectos importantes, faz com que a companhia não incentive o
descarte do papel higiênico no vaso sanitário. “Nossa posição é de que há mais
inconvenientes que vantagens no descarte do papel na tubulação de esgoto”,
afirma Cruz.
Segundo ele, em outros países, onde o papel é jogado no
vaso, o saneamento básico é garantido a quase 100% da população. Por aqui, as
pessoas só poderiam fazer o mesmo se tivessem certeza de que o esgoto é tratado
e coletado devidamente.
Para detalhar os prós e contras em jogar papel no vaso
sanitário, o químico industrial faz algumas observações sobre o assunto.
Confira o parecer na íntegra:
1. O descarte no vaso sanitário tem a vantagem de
afastar rapidamente o resíduo, evitando manipulação e possíveis
contaminações, já que não há armazenamento em lixeiras, coleta manual e
transporte na via urbana;
2. Caso o papel higiênico seja encaminhado para um aterro
sanitário, devidamente adequado às normativas pertinentes, não haverá
contaminação ambiental;
3. Na rede coletora pública de esgotos dificilmente haverá
problemas;
4. No tratamento de esgoto
poderão ocorrer inconvenientes, mas a perspectiva é de que sejam de
pequena escala. O parecer da Sanepar diz o seguinte: “o principal
[inconveniente] é de que no Brasil o sistema de tratamento de esgotos
domésticos é projetado para tratar 54 g por dia de DBO (demanda bioquímica de
oxigênio) por habitante. Na composição deste parâmetro não são
consideradas contribuições decorridas do lançamento de papel higiênico
juntamente com o esgoto. A presença de concentrações consideráveis de
lignina [presente no papel] poderá acarretar complicações para a estação
de tratamento. Outros componentes, como oxidantes e materiais insolúveis, podem
alterar a dinâmica do tratamento”.
5. Podem ocorrer entupimentos nas instalações
intradomiciliares, principalmente em imóveis com tubulações fora dos
padrões ou muito antigas;
6. Para não ocorrer entupimentos, o usuário terá que dosar o
consumo de papel e a tendência é que seja consumida mais água com descargas
repetidas;
7. O ponto mais crítico da questão é o hábito já sedimentado
de jogar papel higiênico na lixeira. Uma mudança de comportamento seria
possível apenas a longo prazo e com investimento em campanhas de
esclarecimento. Até que seja estabelecido um novo comportamento, muitos
transtornos ocorrerão, como o lançamento de outros materiais no vaso –
absorventes, fraldas, cotonetes, preservativos, embalagens de perfumaria e etc.
8. No Brasil, pouco mais da metade do esgoto gerado é
coletado e nem todo ele é tratado. Por isso, antes de lançar o papel no vaso, o
usuário teria de se certificar se o seu esgoto é coletado e tratado. Esse é um
complicador importante, pois a mudança de cultura atingiria toda a sociedade,
mas os serviços de esgoto não estão universalizados.
Fonte: Planeta Água