Ainda mais transparente O governo americano propõe mudar os rótulos dos alimentos de modo a tornar as informações nutricionais mais precisas e compatíveis com novos hábitos alimentares

embalagem de determinado suco de laranja industrializado contém 300 mililitros da bebida. No rótulo, as informações nutricionais, como calorias e concentração de açúcar, entre outras, referem-se a apenas 200 mililitros. Obviamente quem compra um copo vai bebê-lo inteiro - e não apenas dois terços dele. Por que, então, a tabela nutricional não trata da quantidade total de suco? É assim também com refrigerantes, salgadinhos, biscoitos...
No Brasil funciona desse modo, sem dúvida, mas também em lugares com leis mais draconianas, como os Estados Unidos. Na semana passada, a FDA, a agência americana destinada ao controle de alimentos e remédios, propôs mudanças nos rótulos dos alimentos industrializados de modo a torná-los mais precisos e adequá-los aos novos hábitos alimentares dos americanos. Os rótulos atuais estão baseados nos costumes à mesa dos anos 70 e 80. De lá para cá as porções ingeridas aumentaram significativamente. Disse a VEJA a nutricionista Carol Koprowski, da Universidade do Sul da Califórnia: "As informações listadas atualmente não refletem a realidade". 


A proposta de mudança nos rótulos (veja ao lado os detalhes) ficará em consulta pública durante noventa dias. Aprovada, poderá levar meses até entrar em vigor. Adotada, será a primeira grande mudança nesse campo desde o início da década de 1990, quando o governo americano passou a exigir que os consumidores tivessem acesso às informações nutricionais dos alimentos e bebidas vendidos em supermercados e farmácias. 

A preocupação com o número crescente de obesos nos Estados Unidos motivou grande parte das alterações sugeridas pela FDA. Lá, dois terços da população lutam contra a balança. A obesidade é considerada um problema de saúde pública e está relacionada ao aumento exponencial no risco de doenças como infarto, derrame, diabetes tipo dois e câncer. É natural que, depois da adoção nos Estados Unidos, as alterações sejam acatadas em boa parte dos países, inclusive o Brasil, onde quase 70% da população está acima do peso. 

A repaginação dá maior destaque para o valor calórico do alimento. Nas adaptações, houve o cuidado de incluir ou excluir informações nutricionais de acordo com os mais recentes parâmetros do que os médicos consideram uma dieta balanceada. Tirou-se, por exemplo, o item que especificava as calorias provenientes da gordura. A decisão foi embasada em pesquisas científicas segundo as quais a quantidade de cada tipo de gordura é mais decisiva que as calorias provenientes dela. A informação foi retirada para não confundir os consumidores, que muitas vezes acreditam que a gordura não é nociva devido ao baixo valor calórico. 

Foi acrescida ao rótulo a quantidade de açúcar extra adicionado à receita. A intenção é diferenciar qual a quantidade de açúcar encontrada naturalmente no produto e quanto foi adicionado durante o processo de industrialização. Em geral, o acréscimo ocorre para deixar o alimento mais palatável. Além de contribuir para o acúmulo de gordura, o açúcar tem valor nutricional baixíssimo. Outra alteração é que a embalagem passa a exibir os totais de vitamina D e de potássio. A justificativa da agência: a população americana não consome quantidades suficientes desses nutrientes, o que aumenta o risco de doenças crônicas. A vitamina D é crucial para a saúde dos ossos e o combate à osteoporose. Já o potássio é reconhecido por suas propriedades capazes de diminuir a pressão arterial. Até então, o principal indicador de perigo para o coração era o sódio em altas quantidades. A presença das vitaminas A e C se tornou opcional, já que elas aparecem em várias fontes alimentares. 

A evolução dos rótulos acompanhou o desenvolvimento do conhecimento acerca da nutrição. A primeira obra sobre a relação do homem com a comida foi publicada em 1825. Naquele tempo, o francês Jean Anthelme Brillat-Savarin já estabelecia uma ligação entre a obesidade e o consumo excessivo de açúcar e amido nas refeições. Essa visão continuou até a década de 70, quando o governo americano decidiu financiar pesquisas mais aprofundadas sobre alimentação e saúde. "Com a realização de estudos, foi possível descobrir as funções dos nutrientes e o papel deles na dieta", diz Carol Koprowski. 

Dos primeiros rótulos, constava apenas a quantidade de gorduras e carboidratos. Depois, as gorduras foram subdivididas em totais e saturadas, para iluminar os estudos que mostraram como a do tipo saturada aumentava o risco de doenças cardiovasculares. Posteriormente, os dados sobre carboidratos ganharam outro corte, o das fibras alimentares, essenciais para a saciedade. Informações claras têm um único objetivo: a transparência. 

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