Mais de 800 empresas no mundo todo
aderiram ao "conceito B", que valoriza o desenvolvimento social para
todos os envolvidos em suas atividades
Em seu livro e
primeira obra "A teoria dos
Sentimentos Morais", o economista e filósofo escocês Adam Smith argumenta que é natural dos seres
humanos buscarem agradar outras pessoas e sentirem-se acolhidos por elas.
Segundo Smith, na natureza do homem "há
princípios que o fazem interessar-se pela sorte dos outros e considerar a
felicidade deles necessária para si mesmo, embora não extraia senão o prazer de
assistir à felicidade de seu semelhante".
Muitas pessoas
desconhecem esse lado mais "simpático" do economista, mais conhecido
como um dos criadores do liberalismo econômico e por sua obra mais famosa Uma Investigação
sobre a Natureza e as Causas da Riqueza das Nações,
simplesmente reconhecida como A Riqueza das
Nações - ele é frequentemente
associado ao capitalismo selvagem, que gera concentração de renda e
desigualdades sociais. Porém, como grande parte dos teóricos da humanidade,
Adam Smith acreditava que era necessário formular maneiras de se estabelecer
uma ordem social que buscasse o bem comum, apesar do ser humano ser dotado de
sentimentos egoístas.
Ao reconhecer tais sentimentos, Smith reforça que os
homens, em geral, têm um certo altruísmo que se contrapõe ao auto-interesse e
que faz com que busquem formas de compensar o sofrimento alheio.
Em outras palavras, para Smith, fazemos boas ações porque, como
espectadores, podemos nos colocar na pele dos outros e imaginar seu sofrimento
ou dificuldades, mesmo sem passar por isso. Mas o economista escocês ressalta
que "A simpatia não surge
tanto de contemplar a paixão, mas da situação que a provoca". Para
ilustrar isso, Smith enfatiza que essa simpatia só pode ser alcançada à medida
que o espectador "esforça-se
tanto quanto possível para colocar-se na situação do outro (...) ".
Apesar de A
Teoria dos Sentimentos Morais estar
repleta de conceitos complexos, este descrito acima mostra bem como iniciativas
que visam ao bem-estar social surgem em qualquer tipo de sistema econômico.
Esse é o caso da chamadaeconomia
solidária.
O que é
Economia Solidária?
De acordo com o Ministério do Trabalho e do Emprego, "Economia Solidária é um jeito
diferente de produzir, vender, comprar e trocar o que é preciso para viver. Sem
explorar os outros, sem querer levar vantagem, sem destruir o ambiente.
Cooperando, fortalecendo o grupo, cada um pensando no bem de todos e no próprio
bem."
Um grande expoente dessa economia no Brasil é Paul Singer, economista e professor. Em
seu livro "Introdução
à Economia Solidária" salienta
que nos acostumamos a ver uma sociedade inserida num capitalismo de mercado,
onde a competitividade gera pontos positivos para os ganhadores, mas reserva
consequências sociais àqueles que não conseguem conquistar os consumidores. De
modo geral, o destino daquelas empresas que quebram, dos estudantes que não
passam no vestibular, dos trabalhadores que não conseguem emprego é visto
apenas como uma consequência do jogo.
E é exatamente nesse momento que as palavras de Smith ganham
força, pois, nesse sistema puramente competitivo, como empresários falidos que
não conseguem ter o crédito aprovado nos bancos podem se reerguer e gerar novos
negócios e empregos?
Em princípio, colocar as ideias smithianas nesse contexto de
economia solidária parece ser algo extremamente controverso. Afinal, em seu
livro mais conhecido, A Riqueza das
Nações, o economista afirma que mercados competitivos são uma das
melhores formas de induzir o uso eficiente e produtivo dos recursos de um país.
Mas diante disso, considere suas palavras em Teoria dos Sentimentos Morais:
"Na corrida pela riqueza, honra e privilégios, [o homem] poderá correr o
mais que puder, tencionando cada nervo e cada músculo para superar todos os
seus competidores. Mas se empurra ou derruba qualquer um deles, a tolerância do
espectador acaba."
Adam Smith sabia que nenhuma sociedade é perfeita: nem aquelas
adeptas de economias de livre-mercado e nem as de economia centralizada. Isso
se dá pelo próprio egoísmo dos homens, segundo o autor. Portanto, seja por
conta de empresas que montam cartéis, pagam baixos salários e fazem lobby ou devido
a governos corruptos, os sistemas tendem a gerar desigualdades e insatisfação.
Por isso, muito dependeria de nós, enquanto sociedade consciente e altruísta
(espectadores), o atendimento a tais necessidades. Como exemplo podemos citar
que mesmo que uma empresa esteja inserida no contexto da competitividade do
mercado, quando ela usa de artifícios "desonestos", como explorar mão
de obra infantil em países subdesenvolvidos para baratear seus custos, a
"tolerância do consumidor (espectador)" se esvai e essa empresa é
punida pelos mesmos, pois estes podem optar por pagar mais pelo mesmo produto,
desde que este seja fabricado em conformidade com as leis e com o bom senso
coletivo.
Porém, a história mostra que, apesar da teoria de Adam
Smith encaixar todas essas variantes, a prática não se mostrou tão eficaz e
novos adendos surgiram para complementá-la. A Economia Solidária abraça aqueles
que se encontram na situação descrita por Singer - os excluídos do jogo
capitalista movido pela competição - e propõe formas igualitárias de
empreendimentos, cooperativas, clubes de troca e outros. Em poucas palavras, a
economia solidária é uma tentativa de humanização do sistema capitalista. E não
é a única.
Outras iniciativas com um viés social têm surgido e se
destacam por estimularem novos modelos organizacionais que encorajam o uso do
poder dos negócios para resolver problemas socioambientais. Nesse cenário é que
surgem as empresas B.
Empresas
B
Empresas B são aquelas que usam seus negócios para o
desenvolvimento de comunidades e para a redução da pobreza, além disso busca
também soluções para os problemas climáticos. O conceito das “B Corps”
foi criado pelo B-Lab nos EUA em 2006, com a proposta de
redefinir o sucesso para os negócios. Hoje, há mais de 830 companhias – 75
delas na América Latina - em 28 países e 60 setores. No Brasil, esse conceito
chegou há pouco tempo, liderado pelo Comitê pela Democratização da Informática
(CDI) em parceria com o Sistema B,
representante do movimento na América Latina.
A Ouro Verde
Amazônia é a primeira
empresa certificada como B no país. A certificação é concedida após ampla
análise das práticas empresarias, em todos os âmbitos, como a relação com
trabalhadores, comunidade, meio ambiente, fornecedores, governo, além de
práticas de transparência.
Segundo o site www.sistemab.org,
as Empresas B têm como valores e missão:
1. Resolver problemas sociais e
ambientais a partir dos produtos e serviços oferecidos pelas próprias empresas;
e nas práticas laborais e socioambientais, atender as comunidades, os
fornecedores e os públicos de interesse;
2. Um rigoroso processo de certificação,
que examina todos os aspectos da empresa e que deve atender aos padrões de
desempenho mínimos, além de ter um forte compromisso com a transparência no
relatar publicamente seu impacto socioambiental;
3. Também fazer as mudanças legais para
proteger sua missão ou finalidade comercial e, portanto, combinar o interesse
público com o privado. Isso também irá construir uma confiança com os cidadãos,
clientes, colaboradores e novos investidores.
Veja um vídeo institucional (em espanhol) abaixo:
Requisitos Básicos para se tornar uma Empresa B
Para se tornar
uma empresa B é necessário:
A) Fazer a avaliação de impacto B: a Avaliação
de Impacto B avalia o impacto global da empresa em suas partes interessadas. A
avaliação varia de acordo com o tamanho da empresa (número de funcionários),
setor e localização de operação primária. O procedimento leva normalmente de
1-3 horas; depois de ter concluído a avaliação, você receberá um Relatório de
Impacto B com uma nota geral.
B) Completar uma Revisão da Avaliação: em
seguida, uma revisão de Avaliação com um membro da equipe B Lab é agendada.
Nessa chamada, a equipe irá rever questões que podem ter sido difícil de
responder ou não estão claras, além de ajudar a entender mais sobre as
circunstâncias e quais seriam as melhores práticas para a sua empresa. Em
média, leva cerca de 60-90 minutos para completar uma revisão.
C) Apresentar Documentação de Apoio: em
seu comentário de Avaliação, a equipe também irá mostrar à empresa como
apresentar a documentação de apoio e se a pontuação desta está acima de 80 dos
200 pontos possíveis. A avaliação irá selecionar aleatoriamente 8-12 perguntas
que foram respondidas de forma afirmativa e pedir à empresa para demonstrar
essas práticas de forma mais detalhada através de documentação. A lista de
documentos será gerada após a sua revisão e avaliação.
D) Completa Divulgação Questionário: o Questionário
de Divulgação permite que a empresa divulgue de forma confidencial para a B Lab
quaisquer práticas sensíveis, multas e sanções relacionadas com a empresa ou
seus parceiros. Esse componente não afeta o rating da empresa. Normalmente, a maioria
destas respostas é menores na natureza e, portanto, não é necessária nenhuma
ação adicional. No entanto, se identificado um ou mais itens do Questionário de
Divulgação ou em uma verificação da Companhia e de sua alta administração de
fundo material (práticas suspeitas envolvendo pagamento de tributos e coisas do
gênero), pode ser necessário fornecer informações adicionais. A aceitação e
participação contínua na comunidade B Corp é de exclusivo critério do Conselho
Consultivo de Normas e Conselho de Administração da B Lab.
Benefícios
de se tornar uma Empresa B
Além do
óbvio benefício de se tornar uma empresa oficialmente engajada com a
sustentabilidade em seu ramo de atividade, outros fatores tornam a certificação
fornecida pela B Lab ainda mais atraente, como economizar em serviços de acesso
(CRM-Salesforces, e-commerce etc), atrair investidores ligados à economia
solidária (os chamados empreendedores sociais) e participar de campanhas
publicitárias promovidas pela B-Corp.
É possível
analisar todos os benefícios de forma mais específica, clicando aqui.
Fonte: eCycle