Um novo estudo
brasileiro mostra que seria possível recuperar a Mata Atlântica em propriedades
agrícolas com um investimento de apenas 0,01% do Produto Interno Bruto (PIB) do
país. Para chegar a essa conclusão, os pesquisadores selecionaram propriedades que
apresentam pelo menos 20% de floresta conservada e calcularam o quanto seria
necessário para aumentar a área preservada para 30%. Com 198 milhões de
dólares, seria possível restaurar 424.000 hectares de Mata Atlântica. A
pesquisa foi publicada na revista Science, na
quinta-feira.
Com essa
porcentagem, seria possível manter nas propriedades agrícolas a biodiversidade
em nível semelhante ao das áreas de proteção. Além disso, a preservação de 30%
da Mata Atlântica também traria benefícios aos agricultores. "Seria
possível trazer de volta para as propriedades agrícolas muitas espécies que
realizam funções importantes no ecossistema, como polinização e controle de
pestes", disse ao site de VEJA a brasileira Cristina Banks-Leite,
professora do Imperial College, na Grã-Bretanha, e principal autora do estudo.
O valor que seria necessário investir para atingir os 30% corresponde a 6,5% do
que o Brasil gasta anualmente com subsídios agrícolas. Ele inclui os gastos com
a recuperação da floresta e também o que seria pago aos agricultores. A
"indenização" foi calculada com uma média dos valores praticados
pelos programas desse tipo que já existem na Mata Atlântica. "Na prática,
algumas áreas seriam mais caras do que outras. Essa estratégia não seria eficaz
em lavouras de laranja ou cana-de-açúcar, mas produtores que muitas vezes têm
prejuízo dependendo do clima ou da balança comercial, como na lavoura de tomate
ou morango, ficariam interessados nessa estratégia", afirma a
pesquisadora.
Após três anos
de funcionamento, o valor desse projeto cairia. A área reflorestada já poderia
se manter sozinha, sem ajuda externa, de forma que sobraria apenas o valor pago
aos agricultores, que representaria 0,0026% do PIB. "A partir do
quarto ano seria possível restaurar outras áreas de Mata Atlântica com o
investimento inicial, então essa é uma estratégia que pode ser adaptada à
medida que o tempo for passando", diz Cristina. Ela alerta que o ideal
seria passar dos 30%, para haver uma margem de segurança na biodiversidade.
Para a pesquisadora, esse projeto poderia evitar uma polarização
entre os interesses de ambientalistas e agricultores. "Seria uma boa ideia
tanto para cientistas e conservacionistas quanto para os fazendeiros, que se
beneficiariam tanto pelos recursos ecológicos quanto pelos recursos financeiros
que receberiam", explica. Ela é otimista quanto à possibilidade do projeto
se concretizar: "o trabalho saiu hoje e eu já vi pessoas comentando que
essa é uma estratégia que eles já queriam levar adiante, mas não tinham
argumentos, faltava o apoio científico. Eu acho que existe interesse político e
dinheiro disponível no momento, então é um momento propício", afirma.
Fonte: Veja