Pesquisadores divulgam descoberta de peixe endêmico da Gruta da Tarimba, no interior de Goiás. Todavia, ele já enfrenta ameaça da extinção devido aos efeitos negativos da expansão da pecuária sobre a água da região.
Pequeno, com não mais de 10 centímetros, o Ituglanis boticario chama atenção pelos seus grandes bigodes alongados. A cor é de um rosa claríssimo, quase transparente, porque possui pouca pigmentação. O peixe, descoberto recentemente numa gruta em Mambaí, a 500 km de Goiânia, pertence à família dos Ituglanis, que vivem apenas em cavernas.
A nova espécie foi identificada por pesquisadores da Universidade Federal de São Carlos e da Universidade de São Paulo. O peixe foi descrito oficialmente em artigo pubicado na revista da Sociedade Brasileira de Zoologia.
A região de Tarimba, no interior de Goiás, já era conhecida como um hotspot de fauna subterrânea brasileira. Isso significa que a área concentra alto nível de biodiversidade, principalmente endêmica (que tem como habitat exclusivo aquele lugar).
Uma das principais características do Ituglanis boticario é a presença de odontoides, pequenos dentes bem desenvolvidos localizados próximos às brânquias e utilizados para a fixação do animal, evitando que seja levado em correntezas.
Diferente de outros peixes, que vivem entocados, o espécie goiano está sempre em atividade. "Isso acontece por terem menos alimento dentro das cavernas, então eles precisam procurar mais", explica Pedro Pereira Rizzato, integrante da equipe de pesquisa.
Como outros animais que habitam locais escuros, o Ituglanis boticario apresenta visão menos desenvolvida, mas outros sentidos - como olfato e tato - bastante aguçados. Carnívoro, alimenta-se de invertebrados como larvas e besouros. "Ele possui papel biológico muito importante na caverna por ser um predador de topo de cadeia", afirma a pesquisadora Maria Elina Bichuette.
Todavia, o estudo realizado pelos cientistas brasileiros mostra que o peixe recém-identificado já sofre risco de desaparecer. Além da espécie ser endêmica, a Gruta da Tarimba fica localizada numa região onde tem havido expansão do uso de terras para pastagens. Com isso, o solo diminui sua capacidade de drenar água para dentro da caverna, reduzindo a quantidade de alimento em seu interior.
De acordo com Elina, a urina do gado também aumenta a concentração de ureia e amônia na água, o que pode chegar até a matar os peixes. "Nas grutas onde foi encontrada a nova espécie, ela reina soberana. Não existem outros tipos de peixes ali, por isso se o Ituglanis não for conservado, todo o ecossistema estará em risco e poderá será perdido", alerta.
Os pesquisadores já enviaram solicitação ao Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), órgão responsável pela gestão das unidades de conservação federais, propondo a criação de Unidade de Conservação de Proteção Integral para proteger o local.
O Ituglanis recebeu a denominação boticario em homenagem à Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza, instituição que financiou o projeto desta pesquisa e diversos outros estudos, responsáveis por identificar novas espécies da fauna e flora brasileiras.
Pedro Rizzato
Fonte: Planeta Sustentável
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