Em vez de estandes convencionais, a Google e a Nasa
instalaram telões no pavilhão de exposições do Congresso
Mundial de Parques 2014, da IUCN. Nesta terça, passei a tarde entre
as duas instalações, onde a cada hora acontece alguma demonstração interessante
do uso de imagens para monitorar e guiar a conservação.
E numa delas a Sky Truth demonstrou o protótipo do Global Fishing Watch (algo como
Vigilância Global da Pesca), uma tecnologia que pode ajudar a virar o jogo a
favor da criação de áreas protegidas marítimas e da melhor regulação das frotas
pesqueiras internacionais. Pelo menos, agora todo mundo vai saber o tamanho do
problema.
A Sky Truth é
um ONG que funciona de um pequeno escritório na Virgínia do Oeste, a uma hora e
meia de Washington D.C. Ela se notabilizou por usar imagens de satélites para
denunciar acidentes ambientais no mundo inteiro, especialmente vazamentos de
petróleo, como o do Golfo do México, em 2010, ou o da Chevron, na
Bacia de Campos, em 2011.
As embarcações oceânicas hoje são obrigados a usar um AIS (Automatic
Identification System, em português, Sistema de Identificação
Automática). O dispositivo manda informações sobre o barco, como sua
nacionalidade,e fornece a sua posição. A Skytruth criou um software que usa a
informação do satélite e analisa o trajeto de cada barco que se utiliza de um
AIS. Caso ele se mova pelo mar com um padrão característico de quem está
pescando, o programa o identifica e o separa de navios e embarcações de
transporte.
Criado em parceria com a Google e a Oceana, os principais responsáveis pelo sistema
na Sky Truth são John Amos, geólogo e presidente da ONG, e Paul Woods, desenvolvedor
de software e diretor de tecnologia da organização. Os dois são velhos
conhecidos de ((o))eco. John nos
concedeu uma entrevista no CBUC 2012, em Natal (RN) e
Paul colaborou com reportagem sobre flaringem
plataformas de petróleo publicada em nossas páginas.
Eles estavam empolgados, e com razão. Usando as informações
enviadas pelos dispositivos de identificação, a Sky Truth identificou 3,7
bilhões de dados referentes ao movimento de embarcações oceânicas. O software
separou o joio do trigo e marcou aquelas cujo comportamento indica pesca. Isso
reduziu o número para (apenas) 35 milhões de dados. A Google ajudou a
transformar isso em um mapa. O resultado é espantoso. De repente, ao mirar uma
imagem, você descobre que os oceanos do planeta inteiro estão coalhados de
pesqueiros de alto-mar, invisíveis até agora, e que estão detonando as
populações de peixes comerciais.
“Nós detectamos um navio pesqueiro nas águas de Palau e avisamos o
seu governo”, contou John. “Imediatamente, Palau enviou um barco-patrulha para
interceptar o pesqueiro. E na hora que a patrulha partiu, vimos pelo satélite o
pesqueiro dar meia-volta e partir para águas internacionais, além de, pouco
depois, desligar o seu dispositivo de identificação”. O fim da história é que o
navio pesqueiro infrator fugiu a tempo para águas sobre as quais ninguém tem
jurisdição. Mas agora eles sabem que não passam mais despercebidos.
Na maior parte dos casos, os grandes navios pesqueiros
respeitam as áreas marítimas de cada país. As imagens mostram como logo além
dessas fronteiras abstratas, já em águas internacionais, aglomeram-se para
pescar pesqueiros da Coreia do Sul, Japão, Espanha e Rússia, para citar algumas
bandeiras mais comuns dessas embarcações. Um caso é a Ilha de Trindade, que
pertence ao Brasil. No círculo de oceano sob jurisdição brasileira os
pesqueiros não entram. O exemplo sugere que áreas protegidas marítimas podem
contribuir e muito para impedir que a pesca sem limites arrase as populações de
peixes e ajudem a tornar o mundo submerso um deserto.
Fonte: O Eco