O preço oculto de um crime contra a vida silvestre

“A tolerância zero para o tráfico de animais silvestres”, anunciada pelo príncipe William nesta segunda-feira em Washington, deve ser parabenizada por atacar um mercado que movimenta um valor estimado de entre 10 e 20 bilhões de dólares por ano.

Muitos vêm os crimes contra o comércio ilegal de animais um problema de preservação, mas também é, claramente, um problema de bem-estar. O comércio de seres vivos provoca sofrimentos inimagináveis.

Imagine um filhote de tigre de três meses de idade dopado em uma mala. Ou 1.700 animais vivos no porta-malas de um carro. Imagine também 18 macacos zogue-zogue ameaçados de extinção colocados dentro de meias e presos ao corpo de um passageiro que tentava atravessar o controle de um aeroporto. Estes são casos reais.


Animais silvestres vão sofrer o choque de serem removidos de seus habitats, drogados e manejados pelo homem assim como passarão por situações precárias sem comida e água, às vezes por dias. Esta é a vida de milhões de animais capturados pelo comércio ilegal de animais silvestres. Estima-se que quatro de cada cinco animais silvestres morrem no transporte ou dentro de um ano após terem sido tirados de seu habitat.

Esse comércio é alimentado pelo consumismo: o status de ter um animal de estimação exótico, um troféu ou uma parte de um animal para rituais de cura. A realidade é que não podemos mais ignorar a enorme crueldade por trás do quarto crime mais lucrativo, depois das drogas, armas ou tráfico de seres humanos. 


Força-tarefa

O anúncio de uma força-tarefa para combater o papel que as empresas de transporte acabam, como consequência, desempenhando neste crime contra a vida silvestre, é muito necessário. Mantendo este problema urgente na pauta global, o príncipe William vai liderar o grupo de trabalho junto do Primeiro Secretário de Estado Britânico, William Hague, que vai presidir o grupo. A ideia é juntar companhias aéreas e empresas de transporte internacional de encomendas com organizações de bem-estar e conversação. Nossa esperança é que essa ação seja uma poderosa nova frente de batalha contra o tráfico de animais silvestres, desmantelando as rotas e expondo os criminosos que estão matando e destruindo a vida silvestre do mundo.

Esforços anteriores focaram, em uma ponta da cadeia, nos caçadores, e na outra ponta nos comerciantes e consumidores. Não houve foco suficiente nas rotas e mecanismos que conectam estas duas pontas para facilitar esse comércio mortal. Até agora. 

Estou orgulhoso de que a World Animal Protection tenha uma história consolidada de trabalho muito próximo das autoridades que agem contra a vida silvestre. No inicio deste ano, fizemos campanha para salvaguardar o futuro da Unidade de Crime contra a Vida Silvestre da Polícia Metropolitana da Inglaterra, que lidera a luta contra este tipo de crime em Londres. Com uma rede de mais de 1,7 milhões de apoiadores em todo o mundo, a organização está estendendo este trabalho contra o tráfico de animais em todo o mundo. 

Números do tráfico

Alguns fatos sobre esse comércio incluem:
•    Segundo o Renctas (Rede Nacional de Combate ao Tráfico de Animais Silvestres), mais de 38 milhões de animais silvestres são capturados todos os anos no Brasil e 90% morrem durante a captura ou o transporte. 
•    75% dos papagaios capturados no México para serem vendidos como bicho de estimação morrem antes de serem vendidos ou 31% morrem no transporte. 
•    Pelo menos 75% das cobras, lagartos, cágados e tartarugas morrem até uma ano após serem comprados. Acredita-se que a maioria destes animais, cuja expectativa de vida varia de 8 a 120 anos, morra de causas relacionadas ao estresse do cativeiro. 
•    Camaleões de Madagascar sofrem mortalidade de 10% a 50% em trânsito durante o processo de importação. 
•    Estima-se que a população mundial de elefantes tenha se reduzido de 1,3 milhões em 1979 para 400 mil atualmente. 
•    A população de rinocerontes era de 500 mil no início do século 20 e se reduziu a 29 mil atualmente. 
•    Existem menos de 3.500 tigres no mundo. Esse número era de 100 mil 80 anos atrás.

Por Mike Baker, diretor executivo

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