Austrália, do latim Australis (“do sul”), terra de contrastes… por exemplo, o do mundo civilizado a par do mundo selvagem. A Austrália, que é cosmopolita e agreste, terra dos cangurus e do surf e terra dos tons castanhos do interior e dos tons azuis do litoral, é também a Austrália de animais únicos no mundo, alguns já extintos e outros que sobrevivem, contra todas as contrariedades.
© Grande Barreira de Coral, Austrália (Wikicommons, Nasa).
A Austrália fazia parte do supercontinente Gondwana (América do Sul, África, Índia, Antárctida), que se desagregou há cerca de 140 milhões de anos, tendo-se separado da Antárctida mais ou menos há 50 milhões de anos. O território de que falamos compreende quase 8.000.000 km2, sobre a placa indo-australiana, ocupando uma área total igual aos EUA (excluindo o Alasca). Este “continente-ilha” é o menor de todos, o mais plano, o mais seco, o que contém os solos mais antigos e menos férteis do mundo (só cerca de 6% é terra apropriada para a agricultura). A Austrália compreende o continente australiano, a ilha da Tasmânia e diversas outras ilhas dos Oceanos Pacífico e Indico. Tem 34.000 km de costa e inclui a Grande Barreira de Coral, o maior recife de corais do mundo (mais de 2.000km). Na Austrália, tudo é grande, tudo é extenso e o outback (o deserto) ocupa a maior parte do território. Os seus 21 milhões de habitantes partilham o espaço com uma variada gama de espécies animais, algumas únicas no mundo.
A singularidade da fauna australiana pode ter causas geológicas e climatológicas: o isolamento do continente levou a que o território escapasse a parte das mudanças climáticas globais e a estabilidade tectónica possibilitou uma sobrevivência de espécies superior à verificada noutras zonas do planeta.
© Aranha Tent (Wikicommons, Bignoter).
A fauna australiana contempla mais de 800 espécies de aves (cerca de 300 endémicas da Australásia – Austrália, Nova Zelândia e Nova Guiné), 46 espécies de mamíferos marinhos e inúmeras espécies venenosas (ornitorrinco, aranhas, escorpiões, polvos, medusas, serpentes), mais de 4000 espécies de peixes. No que respeita a animais endémicos deste território, encontramos 83% dos mamíferos, 89% dos répteis, 90% dos peixes e insectos, e 93% dos anfíbios. Salientam-se ainda duas características únicas: escassez de mamíferos placentários e abundância de marsupiais (animais-fêmeas com bolsa abdominal onde se desenvolvem as crias, como é o caso dos cangurus).
© Escorpião do Bosque (Wikicommons, Ozeye).
© Polvo de Anéis Azuis (Wikicommons, David Breneman).
© Medusa Pontilhada (Wikicommons, Monterey Aquarium).
© Serpente Tigre (Wikicommons, Eijingoh).
© Canguru (Wikicommons, nachbarnebenan).
Animais como o coala - um dos marsúpios mais conhecidos e acarinhados e que não é assim tão dócil como parece (em situações de stress ou perigo, pode emitir um odor desagradável, muito semelhante ao da doninha fedorenta). Ou o canguru - 50 espécies diferentes que exigem um controlo criterioso, dado o rápido crescimento e disseminação da população, e que nunca foi oficialmente declarado como emblema nacional da Austrália, embora todos o vejam dessa forma. Ou ainda o digno, o cão selvagem australiano ; o crocodilo-de-água-salgada - o maior crocodilo do mundo, que pode alcançar 7 metros de comprimento ; o pássaro-lira, o gato-tigre, a taipan-costeira - a cobra mais venenosa do mundo. Aliás, a Austrália é o único continente do mundo onde o número de répteis venenosos é superior ao dos inócuos. Ou o curioso ornitorrinco - mamífero cujo veneno nem sempre é mortal mas causa dores imensas por longo tempo, e é uma das mais estranhas criaturas do mundo animal; todos eles se passeiam pelos desertos do interior australiano, pelas zonas costeiras, pelos rios e, alguns, até pelas cidades.
© Coala (Wikicommons, David Iliff).
© Crocodilo de Água Salgada (Wikicommons).
© Serpente Taipan (Wikicommons, F. Delventhal).
© Ornitorrinco (Wikicommons, Stefan Kraft).
É também na Austrália que encontramos a Aranha de Costas Vermelhas, a mais letal deste território, da família da Viúva Negra. Preta, com uma linha vermelha nas costas, é igual à que morde Peter Parker no filme Homem Aranha (aqui, apresenta-se azul) e tão frequente que o seu antídoto se pode comprar em diversos estabelecimentos comerciais (e não exclusivamente em hospitais ou farmácias).
© Aranha de Costas Vermelhas (Wikicommons, Chuck Evans).
Outra espécie perigosa, a jellyfish ou Vespa-do-Mar, é o ser vivo mais venenoso do mundo: corpo em forma de bola de basquetebol, com tentáculos que chegam aos 5 metros. O seu veneno mata em 2 minutos e uma única descarga pode vitimar 60 homens. Mesmo morta, o veneno continua activo por cerca de 24 horas.
© Vespa do Mar (Wikicommons, Chironex Fleckeri).
Outro animal emblemático da Austrália é o Demónio da Tasmânia, herdeiro do extinto Lobo da Tasmânia (o último exemplar morreu em cativeiro, em 1936), nome derivado da forma como a espécie comunica entre si: com guinchos (“gritos”), que os aborígenes consideram ser a “fala” dos demónios, e por apresentar as orelhas vermelhas quando irritado ou prestes a atacar. É o maior marsupial carnívoro que existe hoje neste território.
© Diabo da Tasmânia (Wikicommons, Wayne Mclean).
O isolamento de que a Austrália beneficiou durante séculos foi alterado a partir dos séculos XVII e XVIII, com a chegada de colonos, sobretudo europeus, com a caça desenfreada, com a introdução de espécies não nativas, com a destruição de habitats naturais e o uso não sustentável do solo, que provocou a extinção de algumas espécies animais. O impacto humano foi fortemente negativo e levou ao desaparecimento de 27 espécies de mamíferos e 23 de aves, e à necessidade de se recorrer à criação de áreas protegidas por leis muito rigorosas. Nos últimos dois séculos, como resultado directo da actividade humana, 10 espécies e 6 subespécies de marsúpios desapareceram deste território.
A Austrália assinou a Convenção sobre a Diversidade Biológica, em 1992, que levou ao Acto de Protecção do Meio Ambiente e da Conservação da Biodiversidade (1999), legislação que protege toda a fauna nativa e veio regulamentar a investigação científica sobre as espécies ameaçadas, criando um catálogo das mesmas, para cada zona do continente. Actualmente, estão classificadas como “em perigo” ou “sob ameaça” cerca de 380 espécies.
Sendo habitat de algumas das espécies animais mais mortíferas do mundo, não deixa de ser significativo reconhecer o esforço que tem sido feito no sentido de proteger todos os animais em perigo de extinção, venenosos ou não, uma vez que todos têm um lugar no ecosistema e quando uma espécie desaparece, é todo um conjunto de habitats (incluindo o humano) que é afectado. O respeito e a coexistência”pacífica” estão assim no primeiro lugar das prioridades dos governos australianos no que concerne à vida animal.
© "Australian Animals From The New Student's Reference Work" - Vol. 1 (1914)(Wikicommons).
Nota: dado o elevado número de espécies existentes no continente australiano, e não pretendendo este artigo ser demasiado científico ou exaustivo, indicamos links para melhor (e mais pormenorizada) informação: Australian Biological Resources Study, Australian Museum, Fauna of Australia (conteúdos em pdf sobre mamíferos, anfíbios e répteis).
Fonte: Obvious